sábado, 13 de junho de 2009

Professores de Portugal, Uni-vos!

"Esta é a declaração de uma intenção tomada em consciência e coerência com as atitudes e posições por nós assumidas num passado recente. Não é um apelo a um qualquer movimento de desobediência civil, nem o seu contrário, assim como também não é uma recusa em nos submetermos à avaliação da qualidade do nosso desempenho enquanto docentes.
É apenas a manifestação pública da impossibilidade, de acordo com princípios de coerência e responsabilidade de que nos orgulhamos, de aceitarmos seguir as directrizes de um modelo de avaliação do nosso desempenho que de forma alguma cumpre os objectivos afirmados pela tutela, em particular no regime simplificado em vigor, de constitucionalidade duvidosa e escassa qualidade técnica.
Em conformidade com posições adoptadas por todos nós em momentos anteriores, os subscritores desta declaração afirmam a sua indisponibilidade para entregar a ficha de auto-avaliação nos moldes predeterminados pelo Ministério da Educação.
Esta posição implica rejeitar a transformação do biénio 2007-09 numa pseudo-avaliação com base em objectivos definidos entre três a cinco meses do final das actividades lectivas deste período. Esta atitude significa a recusa frontal em participar de forma activa numa mistificação pública cujo objectivo é fazer passar por verdadeira uma avaliação falseada do mérito profissional dos docentes, mistificação esta que sabemos ter objectivos meramente eleitoralistas mas que terá consequências profundamente negativas para a qualidade da educação em Portugal.
Estamos conscientes das potenciais consequências da nossa tomada de posição, nomeadamente quanto à ameaça da não progressão na carreira por um período de dois anos lectivos, assim como de um eventual procedimento disciplinar que todos contestaremos em seu devido tempo. Esta é uma atitude cujas implicações apenas recaem sobre nós, estando todos preparados para continuar a lutar pela demonstração da ilegalidade do regime da chamada avaliação simplex.
Estamos ainda conscientes de algumas críticas que nos serão dirigidas de diversos quadrantes. Todas elas serão bem-vindas, venham de onde vierem, desde que se baseiem em argumentos e não em meras qualificações destituídas de conteúdo.
Aos que nos queiram apontar que não compete a cada cidadão definir a forma de cumprimento das leis que se lhe aplicam, poderíamos evocar o artigo 21º da Constituição da República Portuguesa, mas bastará sublinhar o que acima ficou explicitado sobre a forma como encaramos as consequências dos nossos actos. A todos os que considerarem que esta é uma radicalização excessiva do nosso conflito com o Ministério da Educação reafirmamos que o fazemos em consciência e coerência com os nossos princípios éticos, sem calculismos ou outros oportunismos de circunstância.
Por último, salientamos que esta declaração não é um apelo a qualquer tomada de posição semelhante por ninguém, mas tão-só a afirmação da nossa. Não podemos, porém, deixar de constatar que a força de qualquer atitude é tão mais poderosa quanto consciente e esclarecida a convicção de quem a toma.
Ana Mendes da Silva (Esc. Sec. da Amadora), Armanda Sousa, (Esc. Sec./3 de Felgueiras) Fátima Freitas (Esc. Sec. António Sérgio, Porto), Helena Bastos (EB 2/3 Pintor Almada Negreiros, Lisboa), Maria José Simas (Esc. Sec. D. João II, Setúbal), Mário Machaqueiro (Esc. Secundária de Caneças), Maurício de Brito (Esc. Sec. Ponte de Lima), Paulo Guinote (EB 2/3 Mouzinho da Silveira, B. Banheira) Paulo Prudêncio (EBI Santo Onofre, Caldas da Rainha), Pedro Castro (Esc. Sec. Maia), Ricardo Silva (EB 2/3 D. Carlos I, Sintra), Rosa Medina de Sousa (Esc. Sec. José Saramago, Mafra) e Teodoro Manuel (Esc. Sec. Moita).

Público, 13 de Junho de 2009

Subscrevo esta corajosa tomada de posição.
Corajosa porque dá o peito às balas. O peito dos seus subscritores e de mais ninguém.
Corajosa porque é um exemplo e um desafio para milhares de outros professores saltarem das trincheiras e avançaram contra um inimigo velho, moribundo e há muito ferido de morte. Um inimigo que só precisa de um sopro para cair redondo.
Os subscritores declaram que a sua posição "não é um apelo a qualquer tomada de posição semelhante por ninguém...". Ok. Compreendo-os e respeito-os.
Mas não os deixo ficar sozinhos...

Por isso mesmo, faço daqui um apelo a todos os professores do país: uni-vos!
Voltai a fazer aquelas reuniões gerais em que aprovaram as moções e aprovem novas tomadas de posição públicas sobre a vossa indisponibilidade para participar no embuste nacional que vai ser a avaliação dos professores. Não entreguem a ficha de auto-avaliação.
Não tenham medo.
Não se ponham com cautelas execessivas.
Mudem o mundo! Levantem-se das trincheiras!

Não se ponham com rodeios. Tomem posições simples: meia página A4.
Aqui vai um exemplo:


Exmo. Sr. Director da Escola Em Que Trabalhamos
Os signatários, professores do quadro da escola que dirige, todos maiores e senhores do seu destino vêm declarar, solenemente, junto de V. Exa. o seguinte:
1 - Recusam-se a participar no actual processo de avaliação de desempenho do pessoal docente uma vez que o consideram uma mistificação pública e um embuste nacional que afectará negativamente e por longos anos a Educação e a Escola Pública.
2 - Em consequência, recusam entregar a ficha de auto-avaliação nos moldes predeterminados pelo Ministério da Educação.
Um Concelho de Portugal, --- Junho de 2009
Nome e assinatura


Não se deixem levar pelos gemidos de algumas pitonisas que defendem a entrega de uma ficha de auto-avaliação própria ou que se junte à de modelo oficial um protestozinho.
Só por estultícia ou, pior, para fazer dos portugueses parvos, é que se pode defender que algum Director aceitará uma ficha que não a de modelo oficial. E se lhe juntarem o protestozinho-descarga-de-consciência, quem o vai ler? Para que serve? Será uma espécie de traque cujo som esperado resultou em esguicho inadvertido.
Como o Guinote disse ontem num bonito poste, é tudo uma questão de tintins. Não de tamanho, mas de os ter ou não ter. Antes de continuar a conversa, faço daqui uma vénia às senhoras professoras e outras senhoras que, não os tendo felizmente, os tintins, claro, têm sangue a correr-lhes nas veias, fibra suficiente para caminharem pelos próprios pés e ossos lá, naquele sítio, onde muitos têm apenas cartilagem.


Corram com eles.
Reitor

13 comentários:

  1. Tanto cagarim porque meia dúzia de gatos vomitaram uma declaração para o Público.
    Se pudessem ser despedidos, como a grande maioria dos portugueses, já não se armavam em valentes.
    Imbecis!

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  2. anónimo das 22:54

    há sempre um tolinho de serviço...

    nunca falham...

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  3. Na falta de outras palavras para expressar o que sinto, colo aqui parte do comentário que deixei no Umbigo.

    "Congratulo os colegas que assinaram esta tomada de posição. Mais uma vez, dando a cara e assumindo as consequências, deram um exemplo de verticalidade e coerência.
    Não quero com isto deixar de lado muitos outros colegas (espero eu…) que também tomem a mesma decisão muito embora seja apenas tornada “pública” nas suas escolas. Creio de percebem o que pretendo transmitir.
    É destas atitudes coerentes que “alimento” a minha alma e que me dão cada vez mais a certeza de que vale a pena continuar a lutar assumindo todas as consequências que daí advenham. Porque sei que tenho razão!
    É nestes momentos que me orgulho ainda mais dos meus colegas.
    É nestas alturas que sinto que a união paira no ar e “ameaça” espalhar-se.
    É! Hoje é um dia diferente! Pelo menos para mim!

    Obrigada a todos!"

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  4. Quem somos e onde estamos eis a grande questão. Estamos com determinado IP, mas quem somos?
    JSerra

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  5. Que vai, então, fazer o Reitor, digo, Director, com os seus avaliandos? Continua a pensar e a argumentar ao nível dos seus "tintins"...

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  6. exijo os meus direitos14 de junho de 2009 às 12:22

    Para além da corência tão apregoada, seria bom saber que entendimentos houve nos encontros com os partidos, especialmente com o PSD. Tudo isso nos passa de lado.Há uma semana atrás já todos sabiamos que o PS não teria a maioria. Mas com esta derrota do PS, é mais fácil ser herói e entrar para a história da educação do inicio do século XXI.
    Mas já que falamos de coerência onde andavam estes senhores nos últimos 30 anos de luta pelos nossos direitos e por melhores condições de trabalho?
    A minha corência é esta: sempre lutei, continuarei a lutar de forma disciplina, e a minha luta não se esgota na entrega da ficha de auto-avaliação, nem neste estatuto. A mim não me interessam heróis, nem entrar para a história de forma apressada, para mim a luta é continua e exercida de forma racional e estratégica. Lembram-se das lutas pelo estatuto anterior? Quantos estatutos virão e quantas lutas virão! Não se esgotem neste pormenor da ficha, pois mais grave que a ficha, é o estatuto aprovado e os directores nas escolas.
    Não entregar a ficha é entregarmos a nossa avaliação de bandeja aos directores.
    Comigo é assim:
    Tenho direito a ser avaliada e exijo ser avaliada, porque um dos deveres da tutela é avaliar o meu desempenho e não abdico disso, nunca.
    Utilizem lá a ficha que quiserem, mas eu não vou eliminar dois anos de trabalho realizado com o maior empenho, porque ele existiu e não se pode eliminar. E mais, não entreguei os objectivos, nem alinho em esquemas de avaliação não formativos que me ocupam mais tempo do que o tempo que tenho disponivel para preparar aulas, no entanto vão ter que atender à minha auto-avaliação e vão levar com uma reclamação caso a avaliação não corresponda às minhas expectativas.
    Voltarei a Lisboa e voltarei a fazer greves sempre.

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  7. "mas eu não vou eliminar dois anos de trabalho realizado com o maior empenho, porque ele existiu e não se pode eliminar."

    Com o simplex e com a FF, claro que vai! Ou vai-me dizer que vai ser avaliada rigorosamente de acordo com o trabalho que fez???

    Não? Pois não...

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  8. Mas não entregaremos de bandeja para o sr. Director se lembrar só do que lhe apetecer. A auto-avaliação é a nossa arma de defesa, lembram-se?

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  9. exijo os meus direitos14 de junho de 2009 às 14:01

    Por isso existem as reclamações.
    E nunca poderão dizer que não quero ser avaliada e que nem sequer fiz uma reflexão sobre o meu trabalho.Faço reflexões períodicas e esta será mais uma.

    Estou sem problemas de consciência ao juntar-me ao grupo de professores que seguirão as orientações dos sindicatos, pois são eles que nos representam e orientam a luta.
    Uma luta é feita de muitas nuances, de avanços, de recuos... a luta é uma processo cozinhado em fogo brando, onde a paciência é um elemento fundamental. Se cada vez que luto pela minha classe profissinal, me destaque-se dos outros armando-me em heríona, já estaria fora do sistema, com uma série de processos às costas.
    A luta é um exercício de paciência e de estratégia, e eu estarei sempre pronta a fazê-la de forma organizada.

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  10. exijo os meus direitos14 de junho de 2009 às 14:04

    Erro: Destacasse
    (falta de paciência para rever o comentário :-)

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  11. "Não se ponham com cautelas execessivas."

    Reitor, olha os teus telhados de vidro...

    Francisco Trindade

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  12. exijo os meus direitos14 de junho de 2009 às 16:03

    Sim... e depois?

    Conheço e bem as consequências da minha posição.
    Vou agir em liberdade e em consciência.
    Cumpro a lei, protesto, mas não deixo caminho livre ao director para me avaliar. A minha luta começou`há 28 anos e vai continuar.
    Voto sempre,não voto PS e não voto em branco.
    Não gosto de heróis???? sei lá não os conheço, não sei o que está por trás de certas atitudes, mas por vezes dou comigo a adivinhá-las.
    Respeito a posição de cada um.

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  13. Um abraço para si também, Francisco

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