sábado, 31 de maio de 2008

Só me apetece desfazer algumas...

O Director-geral resolveu sair da letargia (da escrita, entenda-se) e assestar no Paulo Portas umas valentes bordoadas. Acontece, porém, que algumas delas resvalaram e... ainda sobraram para mim.
Conforme prometido, aqui vai uma réplica:
1.
A falácia de se querer justificar um regime que aquando do 25 de Abril tinha uma taxa de 39% de analfabetismo, 40000 licenciados para 9 milhões de habitantes cai, naturalmente, por terra. Quando um rico dá mais umas migalhas de pão a um pobre este não deixa de o ser.
O problema, caro Director-geral, é que os dados são outros...
O analfabetismo não era, nem de longe nem de perto, da ordem dos 39%, mas sim da ordem dos 20%. De acordo com o Prof. António Teodoro, os valores aproximados da taxas de analfabetismo eram de: 34% (1960); 25% (1970), de 15% (1981) e 7% (1991). Curiosamente, a redução da taxa de analfabetismo foi MAIOR entre 1960 e 1970 do que entre 1981 e 1991 (ver na p.2).
2.
“…Entre 1960 e 1973 fugiram do país 1.409.222 portugueses devido à fome, a miséria e a falta de direitos. O maior problema quando esses portugueses chegavam aos países de acolhimentos era a barreira cultural, não sabiam ler nem escrever, dificilmente conseguiam emprego qualificado. Nos últimos anos do regime, devido a vergonha internacional, e, por necessidade de receitas da emigração para alimentar a guerra colonial o Governo de Marcelo Caetano, obrigava os emigrantes legais a tirarem a 4.ª classe à pressa.”
Não te estarás a esquecer de nada? Não? Nem da fuga maciça e a salto de portugueses à guerra colonial? Ah! Bem me parecia que te tinhas esquecido que uma grossa fatia dos jovens que fugiram do país na década de 60 e início dos anos 70, o fizeram para fugir à guerra e não devido à fome, à miséria e à falta de direitos. E, já agora sabes quantos emigrantes tínhamos em 1999? No Mundo, 4.806.353 e na Europa: 1.386.292.
E subscreves as críticas ao Caetano por oferecer a 4ª classe aos emigrantes! Bem, presumo que critiques com mais veemência os diplomas do 12º Ano Novas Oportunidades? E com raiva e profundo desprezo aquele diploma de licenciatura que, alegadamente, político maior do nosso país obteve em Universidade de vão de escada. E que, mesmo após lhe terem descoberto a careca, não se demitiu.
3.
Quanto à qualidade de ensino: outra falácia. A quase ausência de um ensino experimental no país, o ensino quase escolástico, livresco, assente na memorização de noções muitas vezes inúteis (os meninos de Angola aprendiam as linhas férreas e os apeadeiros de Portugal continental), salvo algumas excepções, faziam do ensino em geral um ente amarelecido, adoentado e tristinha. Uma “coisa” tipo Eusebiozinho de “Os Maias”.
Só vejo nesta afirmação um bocadito de demagogia: é que não conheço nenhuma escola secundária (liceus, comerciais e técnicas) de antes do 25 de Abril que não tivesse laboratórios de Ciências e Físico-Química e, algumas até tinham laboatórios de Geografia e de Geologia. Conheço ainda algumas que tinham Palco e Sala de Projecção de Filmes. E conheci, vê lá tu, várias escolas contruídas depois do 25 de Abril em que faltava isto tudo.
4.
Ver Paulo Portas a advogar que os mais desfavorecidos também deveriam escolher as melhores escolas dá-me vontade de rir…È que quando um pobre pudesse e lhe permitissem aceder a uma escola de elite já os filhos dos ricos e poderosos estariam numa escola estratosférica.Não se pode conceber um sistema para todos a funcionar nos moldes de um sistema programado para alguns. A questão está em melhorar a qualidade do pão em geral e não enganar o povo acenando-lhe com brioches.
Esta merece ser contestada com menos palavras e mais acções: quando parares de rir, porque não dás oportunidade aos desfavorecidos, mesmo que nem todos a possam agarrar, de escolherem a escola dos filhos? É que, o pior mal que lhes pode acontecer é escolherem a escola que já têm hoje, não te parece? Olha que o brioche não é de desprezar...

Reitor

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