sábado, 20 de março de 2010

Mais Uma Nuvem De Fumo

O Ministério da Educação está a concluir um programa de formação sobre bullying, para directores de escola e de turma, coordenadores de estabelecimento, auxiliares e pais. A ministra confirmou ainda o regresso da distinção entre faltas justificadas e injustificadas

Formação sobre bullying? Esta é boa. Vamos esperar até ver os formadores e formadoras...
Deixa cá ver se entendo: o ME foi totalmente incapaz de combater a indisciplina e a violência escolar. Com esta equipa está visto que também será incapaz. Ao invés de estabelecer normas que afastem da escola as crianças indisciplinadas e violentas, remetendo-as para junto dos progenitores, aproveitando para educar também estes com recurso à velha máxima: quem as criou que as ature, o ME vai fazer acções de formação sobre bullying. Com uns porpointes cheios de setinhas a explicar o que é, como evitar e como agir...

Tenho pena dos portugueses. São enganados todos os dias. O ME lança areia sobre todos eles e lava simplesmente as mãos dos problemas que cria. No caso da indisciplina e violência escolar, o ME vai manter os jovens e crianças indisciplinados e violentos à "guarda" das escolas e dos professores. A cumprir penas de lavar a loiça durante dois dias. O recado é óbvio: se os alunos são violentos e indisciplinados, que os aturem as escolas e os professores que até têm formação para isso. Intrujões.

E a Cristina Ribas ajuda à missa. Diz ela:

Mas a concepção de suspensão também pode ser mudada e, em minha opinião, deve!
Quando uma criança ou jovem é suspenso, significa que ele próprio se afastou do grupo em que está inserido, pelas atitudes e comportamentos que assumiu e escolheu. Não são os outros que o afastam mas ele mesmo por ter decidido
contra o grupo e não a favor dele
. ... Nesta perspectiva, a suspensão deve ser uma mais-valia para o processo – tempo de intervenção fora da escola e, por isso, tempo de crescimento para a criança ou jovem.

Até estou de acordo com o significado da suspensão para o aluno: é suspenso e afastado do grupo porque não sabe conviver em grupo, porque não quer respeitar as regras de convivência social. Mas não posso concordar que devamos incutir nos jovens suspensos da escola a ideia de que estão suspensos por se terem afastado do grupo, por terem decidido contra o grupo.

Esta ideia é errada. Errada não só porque não se suspende ninguém por "decidir" contra o grupo; errada, simplesmente, porque não responsabiliza os jovens. Antes pelo contrário. Ao dar a ideia de que cabe aos próprios a decisão de serem indisciplinados e/ou agressivos (decidirem contra o grupo) e, ainda, a decisão de se auto-suspenderem (são eles próprios que se afastam do grupo), centramos no infractor dois poderes: o poder de acção e o poder de regulação. O que, de facto, não só não acontece na realidade como, se acontecesse, seria errado.

Se queremos formar cidadãos livres e responsáveis, o caminho a seguir pelos políticos é o caminho da educação. Há que ensinar três simples coisas aos jovens e aos respectivos paizinhos. Tão simples quanto isto:

1 - No jovem reside a prerrogativa e a liberdade de poder fazer o mal (de cometer indisciplina e violência).

2 - A escola é uma comunidade no seio da sociedade. Assim sendo, na escola, tal como nas sociedades humanas ocidentais, não é permitida a violência nem a falta de respeito aos outros membros da comunidade.

3 - Na escola (tal como na sociedade) existem autoridades que chamarão à responsabilidade e punirão (termo exacto e politicamente indigesto) os jovens alunos sempre que forem indisciplinados ou violentos ou não respeitarem os outros.

Não tem nada que saber.

E que tipo de punição se pode aplicar a uma criança indisciplinada e/ou violenta?
As crianças e jovens que não respeitam os outros, que são indisciplinadas e violentas devem poder ser suspensas e afastadas da escola, por períodos mais curtos ou mais longos, consoante a infracção. E se, na Assembleia da República, os comunistas, os bloquistas e os especialistas em inducação acharem que não devem ser as famílias a resolver o problema e a tomar conta dos filhos indisciplinados e violentos, que cumprem pena (sim, pena) de suspensão da escola, então que os aturem eles durante um ou dois dias para ver se gostam. Afinal, o Parlamento é uma instituição pública como é a escola.

Reitor

8 comentários:

  1. Reitor,

    concordo em absoluto com o que escreveu, mas não sei se tem a noção que deve ser das poucas pessoas em Portugal que se atreve a escrever isso.

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  2. Olha, então já somos três...

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  3. 2 - A escola é uma comunidade no seio da sociedade. Assim sendo, na escola, tal como nas sociedades humanas ocidentais, não é permitida a violência nem a falta de respeito aos outros membros da comunidade.

    Neste seu ponto, que é o principal alicerce das suas conclusões, só a primeira frase é verdadeira. O segundo período fala de abstracções. Quais sociedades humanas ocidentais? A violência e a falta de respeito não serão permitidas na lei mas são praticadas no dia a dia bem impunemente.
    E o que é violência? E o que é falta de respeito?
    Não sei por que escolas vocês andam mas parece-me que a minha deve ser de um mundo outro.
    Claro que eu considero violência e falta de respeito alunos normais chegarem ao 5º ano sem saber ler escrever ou calcular, enfiar alunos aos magotes (28, 29) em salas ditas de aulas sem quaisquer condições de arejamento, com cadeiras para anões e cheiro persistente a esgoto; proibir que o pão que não foi ingerido ao almoço seja levado para o lanche; proibir que os livros da biblioteca sejam requisitados para leitura em casa; ter a biblioteca frequentemente inacessível; obrigar a carregar mochilas pesadíssimas horas e horas pelos pátios; obrigar a carregamentos mínimos de dois euros nos cartões electrónicos que dão acesso à sanduiche ou ao bolo no bufete e espalhar máquinas de diversão que implicam o uso de moedas "vivas"... Podia continuar com tantas outras coisas - a construção das turmas, dos horários, a distribuição de serviço, o perfil dos directores de turma - e tantas tantas outras coisas!
    Na minha escola os alunos são suspensos a eito porque sim. - O X está a faltar? - Está suspenso. - Que aconteceu? - Não sabemos. E o X também não sabe por que foi suspenso.
    Acho que são medidas exemplares nesta tal sociedade ocidental "não violenta e respeitadora" para que os XX se tornem voluntariamente servos. Resultará para alguns, duvido que para todos. E ainda bem.

    Estas conversas sobre escolas, violências, desrespeitos são de entendimento duvidoso porque falamos de realidades diferentes.

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  4. E depois do que acima escrevi, claro que acho para rir essa formação sobre bullying. Vão começar por onde? O que é o bullying?

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  5. Há muitos anos, quando pedi opinião a uma aluna sobre um qualquer assunto, a rapariga, de 10 ou 11 anos, repondeu-me com um sorriso malandreco que iria ser exactamente igual à que eu manifestasse, que era o que mais faltava que defendesse coisa diferente da da professora, que era disciplinada e respeitadora e que queria ter boas notas. Foi há 29 anos e guardei a P na minha memória.

    Quando na disciplina de História, na turma do meu filho mais novo, se tratava da presença dos portugueses na Índia em tempos de Inquisição o professor pediu a elaboração de um texto escolhendo os alunos o ponto de vista de uma das "pessoas" de então. O melhor aluno da turma, rapaz muito bem educado e com todas as qualidades que pode ter um rapaz de 14 ou 15 anos, escolheu pôr-se na pele do Inquisidor-Mor, o que na época mantinha de certeza a cabeça sobre o pescoço. Caíu o Carmo e a Trindade e o professor perseguiu ferozmente o G.
    O meu filho, pior aluno que o outro, com menos virtudes que o outro e grande amigo do outro, já tinha "tirado a pinta" ao professor e, embora achasse que a saída airosa na época seria Inquisidor, optou pela saída airosa no trabalho e fez de comerciante. Passou por muito bom rapaz mas ficou com péssima opinião sobre aquele professor.

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  6. Quando alunos de 15 anos, que têm a obrigação de perceber se um adulto está em sofrimento, se entretêm a amarfanha-lo,esses alunos devem ser severamente punidos. Falo do caso do professor de música que, pelas descrições que dele são feitas, seria bem educado com os alunos. Mas aqui também os adultos que assistem ao achincalhamento e calam não são bons modelos. E os gestores que fazem as distribuições de serviço, que sabedores do caso se mantêm alheios deviam ser impedidos de gerir já que não sabem o que estão a fazer. Estas situações são frequentes e são em geral destratadas porque o tempo as resolve - os profes metem atestado ou desistem da profissão e os gestores esfregam as manápulas de contentes. Não esperam é que os profes desistam da vida.
    Mas há "professores desadaptados" que não são vítimas mas algozes e fautores de perturbação nos alunos.

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  7. Boa tarde stora.
    Você está com vontade...4 comentários de rajada merecem, por agora, uma réplica:
    Não, não concordo consigo.
    E nada disto que vocês diz:

    "E o que é violência? E o que é falta de respeito?
    Não sei por que escolas vocês andam mas parece-me que a minha deve ser de um mundo outro.
    Claro que eu considero violência e falta de respeito alunos normais chegarem ao 5º ano sem saber ler escrever ou calcular, enfiar alunos aos magotes (28, 29) em salas ditas de aulas sem quaisquer condições de arejamento, com cadeiras para anões e cheiro persistente a esgoto; proibir que o pão que não foi ingerido ao almoço seja levado para o lanche; proibir que os livros da biblioteca sejam requisitados para leitura em casa; ter a biblioteca frequentemente inacessível; obrigar a carregar mochilas pesadíssimas horas e horas pelos pátios; obrigar a carregamentos mínimos de dois euros nos cartões electrónicos que dão acesso à sanduiche ou ao bolo no bufete e espalhar máquinas de diversão que implicam o uso de moedas "vivas"... Podia continuar com tantas outras coisas - a construção das turmas, dos horários, a distribuição de serviço, o perfil dos directores de turma - e tantas tantas outras coisas!"

    é falta de respeito, ou violência. Muito menos violência escolar.
    Se os alunos chegam ao 5º ano sem saber ler ou escrever é porque são estúpidos ou deficientes ou então não frequentaram a escola. Mas esse facto (não saberem ler, escrever e contar) não é violência nem falta de respeito.
    Os outros episódios que descreve podem inscrever-se no âmbito da incompetência da gestão escolar, da miséria humana, da fome e da falta de recursos económicos, e até das más políticas, mas nenhum deles, note bem, nenhum dos episódios que descreve pode ser considerado falta de respeito ou violência escolar entre alunos, entre alunos e auxiliares ou entre alunos e professores ou entre quaisquer outras pessoas.

    E querer, como você, que sejam considerados uma falta de respeito ou violência escolar só serve para desvalorizar estes dois graves fenómenos que ocorrem nos dias de hoje nas escolas.

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  8. Está enganado. Os alunos não são estúpidos, nem deficientes e até foram à escola. A escola é que não foi para eles. Se tiver tempo (coisa que eu ainda não tenho) estude a realidade das escolas do 1º ciclo. Verifique se não está aí um dos principais problemas para todo o resto da escolaridade. Resultam problemas para as aprendizagens e, consequentemente, de disciplina.

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