quinta-feira, 12 de maio de 2016

Passa a Mocidade Passa...

CEGUEIRA IDEOLÓGICA (in JN de hoje)


De há uns anos a esta parte, quando é preciso desqualificar uma proposta de um adversário, os políticos (ou pelo menos uma parte deles) têm sempre um último argumento de algibeira: a proposta é ideológica. E se é ideológica, é porque não presta. É um argumento pobrezinho mas, pelos vistos, é popular (ou pelo menos foi assim que lhes ensinaram). Como é evidente, só as propostas do adversário se podem classificar como ideológicas.
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Pedro Passos Coelho qualifica a proposta do ministro da Educação socialista de reduzir, já no próximo ano letivo, o número de turmas contratadas com as escolas privadas, nos concelhos em que as escolas públicas tenham capacidade para acolher os alunos em início de ciclo como "anacrónica", "retrógrada" e, cereja no topo do bolo, "cegueira ideológica" (ainda por cima quando se sabe que também é defendida pelo perigoso comunista que lidera o mais poderoso sindicato de professores).Recoloquemos a questão. Privilegiar os recursos disponíveis na escola pública quando está em causa a gestão do dinheiro dos contribuintes é "cegueira ideológica". Já cortar 1300 milhões de euros, em três anos, na Educação (mais do dobro do que nos exigia a famigerada troika); fechar mais de 2500 estabelecimentos de ensino; reduzir, em quatro anos, o número de professores nas escolas de 141 para 111 mil; e, finalmente, garantir a sobrevivência de escolas privadas com o dinheiro dos contribuintes, mesmo quando não servem para cobrir as falhas do sistema público, só pode ser qualificado como moderno (antónimo de anacrónico), progressista (antónimo de retrógrado), e sem pitada de ideologia (uma coisa tão má que não se deve sequer procurar um antónimo). Há que reconhecer: os adjetivos usados por Passos Coelho são fortes e atrativos. Têm aquela musicalidade e simplicidade que nos permite trautear a música, mesmo sem perceber a letra. Mas também revelam uma certa cegueira. Sem ideologia, que não se pretende aqui ofender ninguém.


Digo eu:

Tenho batido no Tiaguinho, algumas vezes... Mas reconheço-lhe a coragem de ter ido mexer num ninho de vespas asiáticas, sabendo que a colónia iria ficar agressiva e picar até mais não poder.
E aqui, surge a vespa rainha do Passos Coelho à frente, marcando a cadência da marchinha que todos lembramos de tempos que já lá vão: "Passa a mocidade passa, que  a malta grama vê-los passar "(...) acompanhado pelas "freirinhas e os padres todos"... e demais interessados, lançando cantigas ao vento... Cantigas são cantigas, mas a verdade é que comer, toda a gente quer! 
Passos Coelho, freirinhas, dignitários da educação liberal, tratantes (no sentido etimológico do termo) dos colégios privados, Conselho das Escolas e demais correlegionários são - lembremo-nos de "Os putos" - como índios, capitães da malta, armados de fisgas, reclamando o que lhes é devido: - Liberdade, direito de escolha, gritar-se-á, pensando como é bom andar com a barriga cheia. 
Mas, desconfio que quando a tarde cair, como sempre, ir-se-á a revolta, todos se sentarão ao colo do pai Marcelo, é a ternura pelo dinheiro dos contribuintes que volta.
E o Tiaguinho também aprenderá a ser homem.


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