domingo, 20 de fevereiro de 2011

Dez Tácticas De Acção Docente

Os docentes encontram-se numa encruzilhada.
Sabem que têm de fazer alguma coisa para combater o nogueiralçadamodelo de avaliação docente, mas não sabem o quê, nem como, nem quando.
Uns e outros, esforçados, tentam algumas estratégias de contestação ao coiso. O xicozé também deu um traquezito pensando que trazia alguns ceguinhos à "verdade". Traque piano. Ninguém o ouviu...
Todos têm feito o seus esforços, mas o sucesso dependerá de jogo colectivo, em vários tabuleiros.
As medidas legais de combate ao coiso, tipo CPA, terão perna curta e apenas servirão para que os experts do ME, mais cedo que tarde, apresentem soluções para as remover do caminho.

Que podem então fazer os professores e os avaliadores para impedir que o Mário Nogueira e a Isabel Alçada lhes apliquem o modelo de avaliação imposto pela segunda e aceite pelo primeiro, silenciosamente, em troca da queda dos titulares?

Podem fazer algumas coisas. Podem colocar algumas pedras no caminho.
Sintetizo algumas medidas tácticas, não para derrubar a paliçada e conquistar o forte, mas para deixar o inimigo sossegado dentro da torre de menagem ....sem pinga de água.

O sucesso desta batalha está, todo ele, sobre os ombros dos relatores.
É nos relatores e na respectiva adesão ao processo de avaliação, é nas cotas e nos registos administrativos que se jogará tudo.

Primeiro: Calem-se os tambores nas escolas
A batalha dos professores e avaliadores deve ser feita em silêncio, no interior das escolas, sem ondas, sem nervos.
Os tambores e o foguetório ficam com os sindicatos, nas suas lutas de coreografia, e para as manifs. O combate a este modelo de avaliação deve fazer-se em silêncio (não se falando do coiso), cada professor deve assobiar, como se não fosse nada com ele, e continuar a dar as suas aulas.

Segundo: Aprovem-se documentos de registo minimais
Nada de portafolhas nem outros artefactos que a lei não exige. Uma ou duas páginas A4 chegam e sobram para registar o desempenho de cada professor.
Nota: os registos serão uma peça importante na estratégia pois serão eles que sustentarão a avaliação final. São duas as ideias: a existência de registos e a sua simplicidade tornarão mais simples a própria avaliação.

Terceiro: Todos pedem aulas observadas e ninguém pergunta nada
Já sei que muitos deixaram passar o prazo sem as pedir. Não há mal. Quem pediu, pediu, quem não pediu também ajudará à festa.
Não recusem a reunião no final das aulas observadas. Confraternizem uns com os outros e assinem os papéis da praxe.

Quatro: Oi! chegaram as cotas
Já se sabe quantos mb e excelentes pode haver em cada escola. Abram o sorriso, continuem todos a assobiar com se estivessem felicíssimos. As cotas estão para os avaliados como os relatores estão para o modelo de ADD: é nelas se jogará o "sucesso" do modelo de avaliação de desempenho, como verão já a seguir.

Cinco: Preencham os papéis
Lá para o final do ano, avaliados e avaliadores devem preencher todos os papelinhos criados pela escola. Os avaliados preenchem religiosamente e entregam ao relator a ficha de auto-avaliação. O relator preenche os papéis que lhe puserem na mão e entrega-os no prazo (outro dos segredos do sucesso desta avaliação reside no respeito total pela burocracia administrativa em que a mesma assenta. Podem falhar a dar as aulas, mas não pode haver qualquer falha administrativa)

Seis: Propostas de classificações
Cada relator avaliará o desempenho dos seus professores de tal forma que, a nenhum é dada nota inferior a 10 valores e aqueles que não tiverem aulas observadas também terão classificação máxima em todos os indicadores possíveis.

Sete: Atribuição das classificações
Em recebendo os processos de avaliação, o júri chegará à conclusão, surpreeeeeeesa!, de que a todos os avaliados foram atribuídas classificações de 10 valores.
Tira boi, tira vaca, puxa argumento larga farpa, o júri chegará a duas conclusões:
a) que o relator não alterará uma vírgula às suas propostas
b) que não existe em nenhum dos processos nada que possa diferenciar o Joaquim da Ana.
Faz-se a primeira votação e decide-se devolver os processos a cada relator para que estes ponderem novas propostas, de tal forma que se respeitem as cotas.

Oito: Reavaliação da avaliação
Os relatores reavaliam, reavaliam e entregam novas (isto é importante) fichas de avaliação com as mesmas classificações iniciais, exactamente as mesmas.

Nove: Atribuição das classificações
Em recebendo novos processos de avaliação, o júri observa que se mantém a situação inicial: a todos os avaliados foram atribuídas classificações de 10 valores.
Decide (2ª votação) remeter os processos à CCAD.

Dez: Validação dos desempenhos excelentes e muito bons
Em recebendo os processos de avaliação, a CCAD ficará sem saída e apenas poderá ... lançar os dados.



Reitor

13 comentários:

  1. Mas isto não é uma táctica: é uma sacanice.

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  2. Esta estratégia ou conjunto de estratégias dá vontade de rir. Então esquece-se que cabe à CCADD, nos termos da legislação em vigor, definir critérios de desempate?
    Na minha escola eles são já conhecidos: 1 - docentes com menção de mérito correspondente a maior classificação numérica; 2 - docentes com maior graduação profissional.
    Será que, aplicando estes critérios legitimados pela Lei, a paz instalar-se-á nas escolas? Não creio mesmo nada.

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  3. O problema é fazerem de tudo para mandar abaixo as avaliações. Aí eles lutam a sós contra todos.

    Enquanto não houver o dia em que os professores digam "não queremos este modelo, queremos aquele", ninguém os vai apoiar.

    Ser apenas do contra não serve. Para isso já o país está habituado...

    Os professores precisam de se juntar, coordenar, e sugerir um modelo alternativo de avaliações, aí terão o apoio de um país todo...

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  4. Meus caros amigos, mais valia lerem os papéis e estudarem a lição.
    Hoje fica-vos de borla.
    1 - Não está previsto na legislação em vigor, nomeadamente no Dec. Reguçlamentar 2/2010, o da ADD, que a CCAD possa estabelecer "critérios de desempate". Ou seja, considerando a actual legislação relativa à ADD, a CCAD é incompetente para estabelecer critérios de desempate na ADD. E se já os estabeleceu, pura e simplesmente usurpou funções.
    2 - Qualquer pitosga consegue ver que, mesmo que venha a ser atribuída à CCAD a competência para estabelecer critérios de desempate (e vai ser), mesmo assim, como desempatar classificações iguais em todos os parâmetros e em todos os avaliados sem recorrer ao ... jogo de dados de que eu falo no poste?
    A menos que se recorra ao velho critério da antiguidade (para nos rirmos um pouco mais), o que sobrará senão a lotaria?

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  5. BI-TÁCTICAS
    in: http://correntes.blogs.sapo.pt/969388.html
    de PauloP
    Sou pela responsabilidade individual, já assumi várias posições arriscadas na minha vida, mas não desprezo as acções colectivas; bem pelo contrário. Acabei de ler um post do Reitor "Dez Tácticas de Acção Docente" e alguns desenvolvimentos doutros bloggers. O Reitor propõe que se desenvolva, em silêncio, toda a avaliação do desempenho e que no fim se remetam os processos - chapa 10 - para reavaliação da Comissão de Coordenação da Avaliação do Desempenho de cada escola ou agrupamento com o objectivo de entupir a coisa.
    Lembro-me que em 2008 também apareceram propostas semelhantes. Veio a verificar-se que os mentores, e os seus apoiantes, não leccionavam em escolas dos ensinos básico e secundário. E a exemplo das minutas dos sindicatos para responder violentamente às fichas do ME, estas propostas só entram no raciocínio de treinadores de bancada que bem poderiam desempenhar as funções de quem criou este desmiolo. Que me desculpe o Reitor. São os bi-tácticos, como se dizia em tempos. Quem conhece bem a forma como tudo isto dilacera a atmosfera relacional das escolas, tem a mesmo atitude que se deve ter com o desrespeito pelos direitos humanos: suspenda-se a agressão e já.

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  6. Deve ser falha minha mas essa é a estratégia certa para a ADD ser levada até ao fim.
    Para já, baralhei-me logo nos dois primeiros pontos, que acho uma carpete daquelas antigas, felpudas, à anos 70, para que tudo se desenrole em conforto e sem chatices.

    É impressão minha ou este é o Reitor 2.0, aquele que pensa menos bem do que o original?

    Perguntar não ofende, né?

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  7. Pois e depois o director dá as notas que quer aos amigos, e ele é que faz a distinção. Seria bom se apenas o relator mandasse mas depois de tudo aceite quem se trama é o professor que vai nestas lérias

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  8. Quando nos dá jeito, atacamos o corporativismo, o pensamento único, o espírito de união, os ajuntamentos... e pugnamos pela iniciativa individual, apelamos ao livre arbítrio, contestamos o "carneirismo", as greves, as lutas sindicais, rimo-nos do "colectivo"... Aqui sugere-se uma estratégia colectiva, coisa um pouco surpreendente, vinda de quem vem. É não conhecer o divisionismo reinante na "classe" docente.
    Qualquer táctica tem de assentar num pressuposto básico: tem de ser delineada para um grupo em que cada um se está cagando de alto para o outro, característica predominante nos professores.

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  9. O Reitor nada diz que não tenha passado antes pela cabeça de todos os relatores, substitutos à força dos titulares, em muitos casos por eles ultrapassados, relatores ultrapassados por uma categoria extinta. Hoje em dia, as regras podem ser mudadas em quaisquer instantes do jogo, até que sejam instalados a ética e o bom senso. O aconselhável é dar a nota máxima a todos os avaliados.

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  10. Palhaçadas reitorais!
    PalPITAdelas umbilicais!

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  11. mas já repararam que isto é uma perfeita anarquia?

    afinal a MLR conseguiu....

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  12. Ó Reitor, (que raio de nome!) deixe-me que lhe diga: que ingenuidade! Coitadas da CCAD. E acha que os senhores directores (ainda não reitores, mas lá chegaremos) iam nisso?

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  13. Identifico-me com as suas ideias e atitude em geral. A escola actual, a sua gestão, é, quase sempre, e pelo que tenho visto (dez anos, dez escolas, dez contratos), uma vergonha.
    No entanto, lendo estas estratégias de combate à ADD, e até percebendo a sua piada e inteligência, lembro-lhe algo que, ou eu próprio não vi, ou o colega, decerto por lapso de pormenor (não estou a ser, em nenhum momento, irónico), se esqueceu de contemplar: o caso dos professores contratados (a parte que me dói...), para os quais o resultado da avaliação pesa consideravelmente no que toca às listas graduadas e consequente colocação anual. Ou seja, imaginando que em cem escolas haverão noventa e nove que seguem à risca as suas sugestões e uma que não, está o caldo entornado, mas com a agravante de, estando a ferver, queimar uns poucos pelo caminho. Percebe o que quero dizer. A raça docente é muito imprevisível e esperar que uma massa de + ou - 100.000 almas, de repente, se sintonize pela mesma frequência é optimismo a elogiar, mas é, também, de alguma ingenuidade.
    Eu, contratado, preferiria viver sem a avaliação, não me sujeitar às suas entrelinhas kafkianas, não prejudicar horas de sono e de trabalho, preservar o que me resta de cabelos negros, mas a verdade é que, congeladas ou não as progressões, as notas da ADD influem (ao contrário do prometido, como sabe) significativamente na ordenação para concurso dos professores contratados,o que fez com que me passassem à frente, num dos concursos recentes, não me lembro ao certo, mas penso que cerca de cinquenta pessoas, algumas delas com nota de fim de curso três valores abaixo da minha...
    Posto isto, que fazer...?

    Repito sem ponta de ironia: gosto do seu blogue e das suas ideias!

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