segunda-feira, 7 de abril de 2008

Como Diz?

A mãe de todas as aneiras não dorme, nem o seu estado de aparente inactividade é sinal de falta de vitalidade. Embora pareça em estado de hibernação, está bem viva e a tratar da (des)educação do nossos filhos. Agora pariu o Ofício-Circular S-DGIDC/2008/638. Um hino ao eduquês que vem lembrar aos mais esquecidos que a Educação Física é uma disciplina tão importante como o Português:

Portantos, a educação física é importante porque faz parte do currículo desde o 1º ano, tal como o Português... Pois, já agora, porque é que a DGDIC não assegura que todos os alunos frequentam a disciplina de EF desde 1º ano?

Eis mais algumas pérolas:

"Considera-se que o reconhecimento do sucesso é representado pelo domínio/demonstração de um conjunto de competências que decorrem dos objectivos gerais.O grau de sucesso ou desenvolvimento do aluno no curso da Educação Física corresponde à qualidade revelada na interpretação prática dessas competências nas situações características" e

Os critérios de avaliação estabelecidos pelo Departamento de Educação Física e pelo professor permitirão determinar concretamente esse grau de sucesso. Os critérios de avaliação constituem, portanto, regras de qualificação da participação dos alunos nas actividades seleccionadas para a realização dos objectivos e do seu desempenho nas situações de prova, expressamente organizadas pelo professor para a demonstração das qualidades visadas.(...) os processos e os resultados da avaliação devem contribuir para o aperfeiçoamento do processo de ensino-aprendizagem e, também, para apoiar o aluno na procura e alcance do sucesso em Educação Física no conjunto do currículo escolar e noutras actividades e experiências, escolares e extra-escolares (...).Os procedimentos aplicados devem assegurar a utilidade e a validade dessa apreciação, ajudando o aluno a formar uma imagem consistente das suas possibilidades, motivando o prosseguimento ou aperfeiçoamento do seu empenho nas actividades educativas e, também, apoiando a deliberação pedagógica (pp.34-35 do Programa).

Portantos, de acordo com este arrazoado todo, o importante para medir o grau de sucesso dos alunos não são as suas prestações na disciplina. Não. Os critérios de avaliação é que permitirão determinar o sucesso dos alunos?!

Não cair uma chuvinha que os leve de enchurrada...

Reitor

3 comentários:

  1. A legitimação de uma disciplina escolar de uma qualquer área escolar decorre da explicitação da sua incumbência educativa. A EF encontra o seu argumento central no facto de ser a única disciplina escolar que visa preferencialmente a corporalidade. Mas estou certo de que seria um exercício interessante e surpreendente procurar argumentos, internos e externos à escola, que fizessem prova da incumbência educativa de cada uma das disciplinas escolares. O currículo escolar perderia muitos apêndices depois de submeter cada disciplina ao crivo da relevância social. Nem as disciplinas mais utilitaristas sobreviveriam ao teste, digo eu.
    Estou convencido de que o “esclarecimento” aqui relatado é dissuasor de eventuais reclamações e dúvidas. O enredo é suficientemente denso, codificado, apenas acessível aos professores da área. Não estou a dizer que os pretensos especialistas o percebam, mas pelo menos podem relativizar a sua importância. Impõe-se então uma pergunta: num tempo em que impera o “simplex” para quê o “complex”? Não se trata de um problema do eduquês. Trata-se de saldar uma factura em atraso. Como nunca ninguém quis saber concretamente o que se faz, e como se faz, dentro de um pavilhão, agora que querem saber do que se trata nós não lhes dizemos. Têm de pagar a factura da vossa indiferença. Foram anos e anos de sobrevivência no sistema educativo onde a disciplina foi relegada para disciplina de segunda ordem, o parente pobre das disciplinas escolares a quem se destinou uma função profiláctica, mas claramente redutora: a de reparar os efeitos nefastos produzidos pelas disciplinas ditas “sentadas”. E agora que alguém se lembrou de a (des)promover fazendo parte das operações contabilísticas com médias de acesso ao ensino superior, é que se interessam pela qualidade das práticas? Como diria o barão do PS: quem se mete com a EF... leva! ;o)

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  2. Caro Miguel Pinto. Diz você que o "O enredo é suficientemente denso, codificado, apenas acessível aos professores da área". Muito bem. Gostaria de dialogar consigo sobre o assunto, mas não "sou professor da área"... Faço-lhe o seguinte desafio: É você capaz de me dizer qual a trama? Que diz exactamente o ofício da DGDIC? Como se traduz para português, acessível aos portugueses de mediana formação escolar, um "enredo" desta natureza? Expurgados os disparates, que sobra do "esclarecimento" da DGDIC?

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  3. Se não é da área então terá de pagar a factura ;)
    Agora mais sério: o programa de EF de um CEF do 9º ano diz expressamente que importa classificar os alunos partindo do nível introdutório nas matérias a abordar. A fasquia da exigência em termos classificativos é assim colocada no seu nível mínimo. O sucesso escolar é, como facilmente se percebe, muito fácil de alcançar...

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