quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Intersecções: Margarida Moreira versus Bertold Brecht

As determinações da Sr.ª DREN não fazem lembrar as “qualidades” dos dirigentes retratados por Bertold Brecht?Vejamos as suas determinações sem as quais a tragédia, o caos, o horror, teriam tomado conta da área de intervenção da DREN. Não comentemos os erros de sintaxe, pontuação e quejandos… Vejamos só, mas só, o alcance das medidas, nada óbvias nalguns casos, e a capacidade apenas atribuídas aos eleitos, aos esclarecidos, de apresentar como resultado de determinação o que não passa de uma situação gerada naturalmente.
Governar assim, sim!
Esta mulher é uma senhora, carago!

Ex.mo(a) Senhor(a) Presidente do Conselho Executivo/Director de Escola

Atendendo a que se mantém, em algumas zonas, situações de alerta devido a neve ou gelo, determino:
1. As orientações da Protecção Civil Municipal/Distrital são imperativas para que algumas escolas amanhã não abram e/ou fechem antecipadamente;
2. Em caso de ser necessário o encerramento após o início de aulas deve ser sempre solicitado o acompanhamento do transporte escolar pela PSP/GNR ou Serviços de Bombeiros;
3. Os perigos de intempérie, inusitados em alguns concelhos, estão circunscritos, no momento, à segurança na estrada dos nossos alunos (gelo);
4. Em caso de agravamento inesperado do estado do tempo que venha a determinar o encerramento antecipado, deve haver garantias de que há quem acolha as crianças na residência;
5. Na maioria dos casos teremos um dia de aulas normal.Quero em meu nome pessoal e institucional saudar o trabalho de articulação das escolas e de todas as autoridades intervenientes na Protecção Civil.

A DREN mantém o seu Gabinete de Segurança em alerta e naturalmente disponível para apoiar no necessário.

A Directora Regional de Educação do Norte
Margarida Moreira


Revivamos o poema de Brecht - Dificuldade de governar
1
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar.
Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra.
E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.
2
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica.
Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados?E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
3
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.
4
Ou será queGovernar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?

Bertold Brecht

Com as humildes homenagens do Director-geral

2 comentários:

  1. Sempre a propósito (relembrar este poema) em situações como as que se estão a viver neste país...

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  2. Pois é, senhor diretor geral. Se não é dizerem-me que tenho de ter objetivos e prantados num papel, não sei como conseguiria dar as minhas aulas!
    Ainda bem que há chefes!
    Ao fim de 36 anos lá tenho de perceber que andei até aqui à deriva, não fiz nada que tivesse préstimo!
    Ainda bem que há chefes!
    Durante estes 36 anos possivelmente nem existi. Só agora posso finalmente ganhar consciência de mim.
    Ainda bem que há chefes.
    Senti o mesmo quando fiz estágio - sem estágio como iria descobrir para que servia o giz?
    Sem a seudona Margarida como é que todos os interessados descobririam o gelo?
    Ainda bem que há chefes.

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