quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Abateu-se Uma Calamidade Sobre Os Madeirenses! Pior Que Um Bombardeamento. Chiu, Não É Bem Assim

Todos os dias leio nos jornais e vejo na TV notícias sobre a tragédia madeirense. As imagens dão uma ideia aproximada da calamidade que se abateu sobre estes portugueses.
À medida que o tempo passa, as nuvens dissipam-se, as pessoas retomam o ânimo, a lama e as pedras são removidas das ruas.
Mas, à perplexidade que me causam aquelas imagens, vai-se juntando uma outra perplexidade e incompreensão.
Vou tentar fazer um ponto da situação para ver se percebo o que se está a passar:
1 - A Madeira sofreu uma calamidade natural, a pior dos últimos cem anos
2 - Os efeitos dessa tragédia estão à vista e estavam previstos no Plano de Emergência. As imagens da calamidade correm o mundo
3 - Jardim fala em cenário «pior que um bombardeamento»
4 - Jardim recusa-se a decretar o Estado de Calamidade Pública. E fala entre-dentes como se não quisesse falar sobre o assunto.
5 - O secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade, também apoia a decisão de Alberto João Jardim de não declarar o estado de calamidade após a tragédia .
6 - Simultaneamente, os portugueses, os europeus e o mundo cotizam-se e solidarizam-se para apoiar os madeirenses nesta hora funesta.
7 - Simultanemente, com aquele ar de campanha eleitoral, Jardim faz anúncios: anuncia a construção de um túnel entre a Serra de Água e a Meia Légua, na Ribeira Brava, para substituir a estrada destruída pelo temporal de sábado.
8 - Anuncia a construção de um bairro para 26 casas
9 - No mesmo tom, censura a iniciativa do Ministério Público da Madeira de investigar eventuais falhas de planeamento que possam estar na origem da catástrofe
10 - E fala de 37 corpos registados e 18 desaparecidos sendo que as autoridades oficiais apontam para 42 vítimas mortais
Há aqui peças que não encaixam bem:
- Porquê falar em calamidade e não declarar a calamidade?
- Porquê responder com meias palavras quando são confrontados com esta questão?
- Porque é que o número de mortos do Governo Regional são diferentes dos das autoridades oficiais?
- Porque é que, ainda em fase de resgate de pessoas, de contagem de mortos, de limpeza e de alojamento e apoio às pessoas, já se anunciam obras de vulto, com a mesma facilidade com que se anunciaram e fizeram obras, em tempos recentes, sobre os leitos de cheia das ribeiras?
Não bate a bota com a perdigota.
Quando convém, a calamidade é terrível; quando já não convém, nem se quer ouvir a palavra.
Ainda não se encontraram todos os mortos e desaparecidos e as preocupações já são o turismo e a Festa das Flores.
Os prejuízos são monstruosos para o Governo Regional e os mesmos que apelam à solidariedade vão pelas aldeias fora dar ânimo às pessoas e prometer obras como quem promete rebuçados.
Fico perplexo e começo a antever outras calamidades. Preparem-se portugueses.

Reitor

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