O professor Paulo Guinote veio dizer-nos que se perdeu a guerra da democracia nas escolas.
Venceu portanto a ditadura. Ou algo pior.
Não que ele não tivesse avisado.
Não que ele não tivesse lutado pela democracia das escolas.
Teve foi poucos soldados a combater consigo.
E em que factos apoia o professor a sua teoria?
Afirma ele que:
- O DL 75/2008 é inconstitucional (é sim. Mesmo que nenhum tribunal o tenha dito)
- O Conselho Geral não é um órgão verdadeiramente representativo da comunidade educativa. Apenas tem pretensões a representá-la. (como os socialistas que estão na Assembleia da República em quem eu não votei. Também eles têm pretensões a representarem-me mas não representam)
- O novo modelo de gestão que apenas definiu uma cadeia hierárquica de comando entre a tutela e os professorzecos. (antes deste modelo de gestão aparecer, a cadeia estava invertida. Ia dos zecos até à tutela)
- Os pequenos potentados locais adormeceram deixando o flanco todo à mostra (para gaúdio dos zecos. Afinal não foi tudo tão mau assim)
- Os Conselhos Gerais Transitórios formaram-se, quantas vezes como emanações dos poderes que já estavam consolidados nas escolas (o que parece provar que o modelo anterior também não era democrático, pois permitia a consolidação de obscuros e nefastos poderes nas escolas)
- Poucos Conselhos Gerais assumiram o seu papel de efectivo órgão fiscalizador do trabalho da Direcção, muitas vezes porque a sua liderança estava conivente com a solução directiva (um pouco como acontece entre o Parlamento e o Governo mau grado ter sido esse o desejo do povo)
- Os Conselhos Pedagógicos tornaram-se uma assembleia interna com poderes pouco mais do que fáticos e quase sempre com o controlo total do Presidente que é o Director (Conselhos Pedagógicos, note-se, constituídos maioritariamente por professores que, neste caso, convenientemente, não passam de Zecos na mão de um Diretor-ditador ou de Zecos-ditadores nas mãos do Diretor)
- Os Diretores acomodaram-se à situação criada. Para além do conselho das escolas, criaram-se duas associações (a acomodação foi tal que até criaram duas - logo duas - associações de diretores)
A verdade, meu caro, é que a democracia que existe hoje no funcionamento das escolas está para nós, simples utentes e população em geral, como a que existe hoje nos nossos empregos e que pode ser resumida na máxima: trabalho é trabalho, democracia é democracia.
A verdade, meu caro, é que a democracia que existe hoje nas escolas está para a que existiu ontem como o regime democrático de hoje está para o de ontem: continuamos a ter eleições de quando em vez.
O resto é demagogia.
Reitor
Ainda há muita construção socialista para demolir. Haverá espaço para vazar o entulho?
ResponderEliminarExcelente artigo.
ResponderEliminarParabéns.
Gostava de perceber o "conceito vencedor" deste post.
ResponderEliminarAcho que percebi.
A sociedade e a política estão com imensas disfunções e coisas erradas, ergo... as escolas também deve passar pelo mesmo.
Eu sei que já o Reitor 1.0 achava que aquela coisa da LBSE não era para levar a sério. Mas fazia-o com alguma elegância.
O Reitor 2.0 é mais truculento.
O Reitor 1.0 queria a queda de Sócrates a todo o custo e fez algumas farpadas correctas.
O Reitor 2-0 apenas quer manter o PSD e Passos Coelho no poder, pelo que faz de "almofada".
Não sei se algum dos reitores tem interesse na vida interna das escolas.
Sociedade de Indivíduos Normalizados reitorizados..liofilizados...
ResponderEliminarO apagamento da personalidade acompanha as condições da existência concretamente submetida às normas espectaculares da sociedade de consumo, e também cada vez mais separada das possibilidades de conhecer experiências que sejam autênticas e, através delas, descobrir as suas preferências individuais.
O indivíduo, paradoxalmente, deverá negar-se permanentemente se pretende ser um pouco considerado nesta sociedade. Esta existência postula com efeito uma fidelidade sempre variável, uma série de adesões constantemente enganosas a produtos falaciosos. Trata-se de correr rapidamente atrás da inflacção dos sinais depreciados da vida.
Em todas as espécies de assuntos desta sociedade, onde a distribuição dos bens está de tal maneira centralizada que se tornou proprietária, de uma forma simultaneamente notória e secreta, da própria definição do que poderá ser o bem, acontece atribuir-se a certas pessoas qualidades, ou conhecimentos ou, por vezes, mesmo vícios, perfeitamente imaginários, para explicar através de tais causas o desenvolvimento satisfatório de certas empresas; e isto com o único fim de esconder, ou pelo menos dissimular tanto quanto possível, a função de diversos acordos que decidem sobre tudo.
Guy Debord, in ‘Comentários sobre a Sociedade do Espectáculo’
A abordagem de Paulo Guinote sobre a falta de vivência democrática, nas escolas portuguesas, é efectivamente uma realidade.
ResponderEliminarCom as suas reflexões, Paulo Guinote desmonta um absurdo inarrável do que constitui as estruturas superintendentes do ensino português, sejam as CAP, direcções, as avaliações de professores,o ambiente infernal, em que se desenvolve o trabalho na escola portuguesa actual.
Existe um Conselho Geral que elegeu e serve de suporte a todas as arbitrariedades de directores incompetentes, dando, já antes, muitas provas de serem péssimos professores. Temos um Conselho Pedagógico, onde impera a vontade do director porque não sabe mais do que gerir as contas para segurar o lugar. O ensino em algumas escolas é um caos.
E Paulo Guinote tem a virtude de ouvir "as vozes da escola" de norte a sul de Portugal, tendo uma visão do clima autoritário e do compadrio, a vários níveis, não excluindo a influência das autarquias.
A escola portuguesa incorpora a falta de ética reinante, que absorveu a dignidade na sociedade portuguesa de modo geral.