segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Perguntar Não Ofende, Responder É Cortesia

Ontem, o General abriu fogo contra o inimigo liberal. Esse papão que quer destruir o Estado Social. E deixou umas perguntinhas curiosas.

Aqui ficam as respostas que o Passos Coelho gostaria de lhe dar mas não pode por razões que nem é preciso explicar.

Concordam que, depois de quase 2,5 anos de congelamento nas progressões e contagem de tempo de serviço, se siga o mesmo em 2011 (e quase certamente em 2012, até ser tempo de eleições em 2013…)?

Não. No entanto, o povo, no qual se incluem os professores, escolheu o ingº socrates para governar, pelo que é o povo - e os professores também - que deve pagar a despesa dessa (des)governação.

Concordam com o mito útil de que o acordo de Janeiro acresceu 400 milhões de euros à despesa pública, uma mentira que vai sendo repetida sem que ninguém com responsabilidades na oposição a desmonte e negue?

Não. Não concordamos com a mentira, nem com a dos 400 milhões. No entanto, o povo preferiu um mentiroso a governá-lo que uma senhora séria e, ainda por cima, também ela professora. O povo que se amanhe com disse il capo di tutti capi.

Concordam que ... o Estado deve reduzir ainda mais a sua participação na Educação e que deve optar por um sistema paralelo aos das parcerias público-privadas estabelecidas na Saúde?

Sim. Não.
Sim, o Estado deve deixar de estorvar e de gastar indecentemente os recursos dos portugueses a alimentar as mastodônticas Direcções Gerais e Regionais e Conselhos disto e daquilo (a sua verdadeira participação na Educação).
Não, o Estado não deve optar nem alimentar [na Educação] um sistema paralelo aos das parcerias público-privadas estabelecidas na Saúde. Deve apenas preocupar-se em financiar/apoiar a educação de todos os portugueses da mesma forma e nos mesmos montantes, quer os portugueses escolham uma escola do Estado, uma escola privada, uma escola de carácter confessional, militar, ou de outra natureza.

Concordam que, ao contrário do que sempre afirmaram, os professores estão muito bem pagos e devem ser novamente sacrificados em nome do interesse nacional, enquanto o Estado continua a lavrar contratos de outsourcing, alegando falta de meios técnicos, quando afirma ter excesso de funcionários?

Não podemos concordar com o contrário do que sempre afirmámos. O Estado faz outsourcing porque o povo escolheu um ing.º aldrabão para o governar. Portanto, como o povo - em que se incluem os professores - é quem mais ordena, que seja também ele a pagar a conta.

Será ofensivo perguntar se o PS não está a fazer a política do PSD nesta matéria, em vez do próprio PSD, permitindo à nova direcção laranja eximir-se a um discurso claro nesta matéria – fugindo a hostilizar abertamente o eleitorado docente – e lavando branco tudo o que foi feito de ziguezagueante ao longo de 2009?

Perguntar não ofende. Não. O P.S. faz a política do P.S. Os ziguezagues foram da autoria do aguiarbranco, esse socialistasocialdemocrata que atraiçoou os professores dando um efusivo abraço ao teu amigo do peito, Santana Castilho.

Será ofensivo questionar se a investida feita em nome da liberdade de escolha em alguns sectores da blogosfera, em nome de um ideário liberal, se poderá alargar a uma verdadeira liberdade de escolha, por exemplo, na definição de um desenho curricular descentralizado, de uma liberdade de escolha (e recusa) de alunos pelas escolas e professores? Se a liberdade de escolha é para levar a sério em todos os aspectos ou apenas naqueles onde há negócio?

Não ofendes. Os tipos da blogosfera querem apenas conversar e, para isso, lançam assim umas ideias mais "discutíveis" de tal forma que a blogosfera cai na esparrela e começa a discutir o sexo dos anjos, a ver demónios no céu e ver perigosos liberais em cada esquina.
A liberdade de escolha não tem nada a ver com currículo, nem com professores, nem com escolas, nem com negócios. Tem a ver, apenas, com o exercício da cidadania. Trata-se de devolver ao cidadão a capacidade para fazer as suas escolhas, de acordo com as suas possibilidades, expectativas e interesses.

Não será também liberdade de escolha aquilo que fazem os alunos que optam pela fast lane das Novas Oportunidades para chegarem à Universidade? Não será liberdade de escolha poderem optar livremente pelos cursos que querem seguir, mesmo sem cumprirem um trajecto regular?

É sim senhor. Excelente o exemplo que dás. Liberdade de escolha é a capacidade que o aluno tem de escolher o seu percurso escolar, nomeadamente escolher o caminho que lhe parece mais curto para chegar ao seu destino.
O problema que colocas não está na liberdade a mais, mas sim na utilização do Estado para fins indevidos. Só num país onde não há Estado de Direito é possível criar regras para nivelar a mediocridade, para facilitar a vida aos amigos e para validar diplomas obtidos ao domingo.

Como combinam as ideias de liberdade de escolha pelos agentes educativos com a exigência de rigor na Educação, regras progressão na escolaridade e até de acesso à profissão docente?
Repito: a liberdade aplica-se apenas à parte do empreendedorismo, dos negócios, ou é para ser uma liberdade mesmo a sério?

O caldo ideológico em que medraste cega-te: a liberdade de escolha reside no cidadão; o rigor na Educação, as regras de progressão na escolaridade e de acesso à docência residem no Estado: o Estado que tanto defendes nem deixa fazer uma coisa nem faz a outra. Não deixa o cidadão ser senhor de si e das suas escolhas nem assegura rigor na Educação.

Que tal explicarem, de uma vez por todas, se consideram como hipótese o fim de um concurso nacional de docentes (recordemos que foi David Justino que muito bem reforçou os seus mecanismos de controle e equidade, digam o que disserem em contrário…) e de uma tabela salarial única, substituindo esses mecanismos por concursos locais e contratos individuais de trabalho?

Não posso responder directamente a esta questão para não prejudicar o Passos Coelho. Mas posso dar uma resposta como tu darias: "pela parte que me toca, já tanto se me faz o que entenderem fazer".
Sempre ao dispor.
Reitor

7 comentários:

  1. Peço desculpa pela ignorância, mas quem é o General que colocou estas questões, para as quais todos os professores sabem a resposta?

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  2. Reitor
    Agora é que eu vi quem é o General.
    Mas os problemas que pões e a que o PPC "responde", não é sobre o Liberalismo (política e economicamente falando), mas sobre o Neoliberalismo (política, económica e financeiramente falando), que é outra coisa e que o PPC, dissimuladamente responderia com mais convicção e mais nas entrelinhas.
    Não esquecer, que os 4,5 anos do 1º mandato do PS/Sócrates, foram do mais puro neoliberalismo, que agora inverteu, para contrabalançar o ultra-neoliberalismo do PPC e não do PSD.
    Tanta "liberdade" de escolha, para sermos obrigados a pagar a dívida dos neoliberais da Banca, das Bolsas, dos Especuladores, etc., que vêm agora sacar as moedinhas aos pobres, para transformarem em notas. Ainda não reparou que a Crise é dos Bancos? E quem é que está a pagar a factura, aqui e nos países, ditos ocidentais, do Mercado Livre e da "livre" concorrência?
    Viva a liberdade, de nos roubarem a carne e nos darem só os ossos. Até o Marcelo Rebelo de Sousa disse isto que estou a dizer há anos, mas o pior é que D. Sebastião já morreu... e a alternativa (infelizmente) vai ser dramática.

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  3. Miguel. Quando puder, defina aí o "neoliberalismo". É que estou farto de ouvir (e ver) a "nossa esquerda" a lançar esse papão e olho para todos os lados e não vejo o "neoliberalismo". Como não sou ceguinho...

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  4. ...
    Mas, às vezes, faz-se.

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  5. Reitor
    Mais cego do que aquele que não vê, é aquele que não quer ver. JC

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  6. Reitor,
    Não fui criado em qualquer "caldo ideológico".
    A menos que mo demonstres com qualquer coisa de palpável...

    Porque, como sabemos, sou peão desde sempre e sempre continuarei.
    Não é por mim que começa(ra)m os "encostanços" e os ziguezagues...

    E já agora, por caso até sei de muitas das respostas que daria o PPC, não sei se o PSD que o rodeia, até porque ele teve a humildade de admitir que de Educação conhece pouco.

    Abraço,

    P

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  7. Não se acrescenta grande coisa ao que já sabemos sobre o pensamento do Reitor, para além do seu às vezes bom gosto na escolha da ilustração dos salmos.
    E sempre bem disposto, também nos diverte com uma tentativa menos conseguida de branquear o papel do PSD na "traição" aos professores, atirando o odioso para Aguiar Branco, como se ele fosse o Partido ou mesmo só o grupo parlamentar.
    Recordo que no momento da votação do projecto (se não me falha a memória, do CDS/PP) de suspensão do processo de avaliação, os deputados do PSD primaram pela ausência, numa demonstração de pura cobardia, dando de mão beijada oportunidade ao PS de derrotar a proposta em discussão.

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