São muitos os que, perante mais uma afronta do Governo, preferem olhar para o lado e falar de "reorganização", de "requalificação", de melhorias pedagógicas, de transportes, de refeições... Alguns sem-vergonha, vendidos, até nos atiram directamente areia para os olhos.
Outros há que preferem ver a afronta em si mesma: como um ataque às pessoas em concreto, como um eloquente desmentido à propalada solidariedade regional, como uma traição aos que vivem na província, enfim, como um atentado contra a unidade nacional e a todos os que a promoveram no passado.
Os primeiros, os que valorizam o acessório em detrimento do essencial, têm tendência a procurar escalpelizar os prós e os contras do encerramento de escolas, sobrevalorizando as vantagens materiais e reduzindo os custos sociais, culturais, educativos, geográficos e económicos, ao custo dos tranportes e das refeições e do tempo de marcha de e para a escola.
Alguns destes já vertem lágrimas de crocodilo e dizem-se arrependidos.
Outros vão por aí fora montados ...em números: uns a defender que o encerramento de escolas com mais de 20 alunos é errado mas se for com menos de 10 já não é errado. É, antes, uma medida de bom senso. Caso para se perguntar se o encerramento de escolas com um número entre 10 e 20 alunos, será um medida de senso médio + ?
Outros a defender os mega-agrupamentos escolares, dando a entender que a medida do Governo em agrupar as escolas básicas e secundárias não é uma medida errada em si mesma. Que, até aos 2.000 alunos é possível agrupar escolas e governá-las. Que apenas será problemático e errado - excepto se houver casos que o justifiquem - se os ajuntamentos ultrapassarem os 2.000 alunos: "uma organização com mais de 2.000 alunos é ingovernável. Pode haver casos que o justifique..."
Os que olham para o que está verdadeiramente em causa - a boa qualidade de ensino, o bom e saudável ambiente escolar, a governabilidade das instituições de ensino, a personalização e individualização do acto pedagógico, a qualidade do apoio educativo, o bom acompanhamento dos alunos com deficiência ou carência de qualquer ordem, a segurança das crianças e jovens, etc. - só podem ser contra qualquer mega-agrupamento de escolas, excepto quando a iniciativa e a vontade partem dos interessados, nomeadamente dos pais e das instituições sociopolíticas locais.
Os que olham para o que está verdadeiramente em causa - a necessidade de estancar a desertificação das regiões mais interiores do país, a necessidade de pôr em prática uma política de solidariedade e coesão regional, a necessidade de incentivar (e pagar parte dos custos) a fixação de pessoas e instituições nas regiões mais deprimidas do país, a necessidade de combater as fortíssimas assimetrias regionais, a urgência de povoar o país, de integrar todas as populações, de difundir o desenvolvimento, o bem-estar e a mobilidade social - só podem estar contra qualquer encerramento de escolas (seja qual for o número de alunos que a frequentam) excepto quando a iniciativa e a vontade partem dos interessados, nomeadamente dos pais e das instituições sociopolíticas locais.
Reitor
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