domingo, 18 de julho de 2010

Pobres Portugueses

Alguém acha, sinceramente, que é a Constituição que está na orgem da crise em que vivemos permanentemente...

Eu não acredito que seja a Constituição a origem da nossa crise permanente. Ajuda, mas não é a fonte da desgraça.
A origem do mal que mantém o país em "crise permanente" reside nos próprios portugueses. Somos nós, portugueses, os culpados de termos um presente sem crescimento, com baixíssimos salários, com congelamentos ano após ano, com cortes nas reformas, enfim, um futuro sem esperança para nós e, sobretudo, para os nosso filhos e netos.
É a nossa pobreza de espírito, a nossa falta de nervo e de sangue nas veias que geram a nossa desgraça, o crescimento quase nulo e o empobrecimento do país.
É a nossa permanente resignação, a aceitação, sem tugir nem mugir, das maiores ofensas, da mentira do permanente roubo ao Estado (ainda não percebemos todos que o estado somos nós) que faz de nós um país pobre e um povo atrasado.
Em que país desenvolvido do mundo, a população aceitaria ter a dirigi-lo um mentiroso compulsivo?
Em que país do mundo desenvolvido, o povo acha normal os políticos mentirem e roubarem?
Como é possível, a dívida e o défice serem aceitáveis antes das eleições, passado um mês subirem para mais do dobro e o Ministro das Finanças continuar a ser o mesmo?
Como é possível aceitar resignadamente conviver com políticos que prometem não aumentar impostos e, após as eleições, eles próprios aumentam impostos?
Como se convive sem um levantamento popular com as escandalosas reformas dos políticos e dos boys das empresas públicas?
Como se aceita que existam empresas públicas sabendo o povo que as mesmas só estão nas mãos do Estado porque há necessidade de distribuir tachos políticos?
Como é que se pode aceitar que o Estado venda aos privados a maioria das acções da PT e depois queira continuar a mandar na PT.
Enquanto NÓS e mais ninguém não afastarmos a má moeda, não nos indignarmos com a mentira, com a indecência (vejam que temos um representante do povo - meu, seu, nosso! - que furta gravadores e se mantém como representante do povo!) e a falta de respeito, não há Constituição que nos valha.
Enquanto nós aceitarmos com normalidade e resignação a incompetência, a falta de escrúpulos e de princípios na gestão da coisa pública, merecemos viver mal o resto das nossas vidas. E açoitados todos os dias.
Enquanto nós aceitarmos, resignados, que é nosso dever (solidariedade como dizem os bandidos) pagar os luxos - as férias, o cinema, a internet, os portáteis, os LCDs, os telemóveis, os automóveis, a MEO, a SportTV, a dose diária e o revólver - aos nossos compatriotas que perdem constantemente empregos ou cujo expediente é safar-se do trabalho e viver à custa do rendimento mínimo (famílias inteiras), merecemos ser pobres toda a vida. E flagelados todos os santos dias.
Enquanto nós nos mantivermos, cobardemente, resignadamente, dispostos a aceitar este estado de coisas, hipotecando o nosso futuro e o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos, não há Constituição que nos valha.

Reitor

4 comentários:

  1. Reitor,
    Há algo que nem sempre temos coragem para enfrentar e que é: até que ponto a maioria dos portugueses não se acomoda à má moeda, para não se sentir diferente de quem nos governa?

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  2. Na verdade, somos um povo sui generis, para não dizer que sofre de doença bipolar. Votamos maioritariamente em políticos mentirosos e incompetentes e em autarcas a contas com a justiça, aplaudimos(ou calamos) leis injustas, que indignificam, que desresponsabilizam em vez de responsabilizar, e depois querem que ensinemos a juventude a ser responsável, honesta, com espírito crítico e alto sentido cívico!

    Maria Neves

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  3. Maria Neves,
    Acha mesmo que querem que ensinemos a juventude a ser responsável, honesta, com espírito crítico e alto sentido cívico?
    Tenho sérias dúvidas. O sistema montado conduz à infantilização e à irresponsabilidade. Que encarneirem, que não saibam o que lhes compete...

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  4. Reitor,
    conheço tantos jovens à procura de emprego e que não arranjam. E conheço gente que ao fim de 25 anos de trabalho foi despedida (reajustamentos nos postos de trabalho - diz a empresa)e que poucas hipóteses terá de arranjar emprego. Alguns, com mais desenrascanço, encontrarão modos de viver com pouco. E os outros?
    E quer parecer-me que a situação vai piorar.
    Que lhes propõe? Que propõe?

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