domingo, 6 de junho de 2010

"Cinco anos de casuística, bandalheira e propaganda"

Num brilhante poste, Octávio Gonçalves resume de forma eloquente e certeira a política educativa dos socialistas socráticos, ou socráticos socialistas.
Trancrevo-o:

Embora, desgraçadamente, a hora ainda não seja de balanço, uma vez que, como o discernimento e a coragem políticas não são virtudes lusitanas, Sócrates continua a desgovernar o país, não posso deixar de reagir ao disparate consubstanciado na afirmação do ministro dos Assuntos Parlamentares, de acordo com a qual "o ensino em Portugal viveu nos últimos anos uma revolução".
A rigor, o que o ensino viveu foi uma sequência de ataques do mais inconsistente, incompetente e atrevido de que há memória, desencadeando um clima insuportável de crispação e de conflitualidade que mais se assemelhou a uma "guerra" (foi assim que a ministra caída em combate a qualificou) do que, propriamente a uma "revolução". E com a intransigência e os equívocos das políticas educativas socráticas quem ficou a perder foram os professores, foram os alunos e foi o país, como a seguinte listagem de medidas fracassadas, que nem sequer é exaustiva, comprova:

- o flop do "Magalhães" (envolvido em polémicas e em obscuridades, com irrelevante penetração nos info-excluídos e com uma utilização não acompanhada e negligenciada, além de convertido em ridículo fetiche propagandístico) e do Plano Tecnológico da Educação (metas e objectivos incumpridos nos prazos previstos, sem avaliação, nem responsabilização);
- a avaliação dos professores constituiu a expressão mais impressiva do falhanço da governação de Sócrates, tendo passado de "desígnio nacional" para tema recalcado e tabu na mais recente retórica socrática. Sem salvaguarda da seriedade e da transparência do actual modelo de avaliação e sem que tenha ocorrido qualquer selecção ou processo de formação sérios de professores capacitados para avaliar a complexidade das componentes da docência dos seus pares (quantas vezes mais competentes e habilitados que os próprios avaliadores), o processo segue uma trajectória de farsa e de faz-de-conta;
- a imposição de um novo modelo de gestão, sem avaliação rigorosa da eficiência do anterior, veio alimentar prepotências, gerar perseguições e fenómenos de mobbing, mas, sobretudo, amputar a democraticidade nas escolas, as quais deveriam constituir, para as gerações futuras que formam, o exemplo vivo de funcionamento democrático, pois dificilmente alguém pode ensinar, de forma convincente, o contrário do que pratica ou daquilo a que se submete;
- a indisciplina e a violência banalizaram-se nas escolas, num clima de sobreprotecção e de impunidade dos prevaricadores;
- a pressão da tutela para o facilitismo ao serviço de uma estatística de propaganda;
- o desvio do trabalho dos professores com os alunos para tarefas burocráticas e inúteis;
- a desestabilização das escolas pela via do ataque gratuito à dignidade e à autoridade dos professores;
- o abandono do sistema por parte dos professores mais velhos, em clima de revolta e
de frustração;
- um Estatuto do Aluno que a prática escolar viria a ridicularizar;
- a quase infantilização do programa "Novas Oportunidades" que tudo certifica, mas muito pouco ou nada qualifica verdadeiramente, revelando-se um impressionante sorvedouro de dinheiros públicos;
- o desvario do encerramento cego de escolas, com o consequente desinvestimento na
interioridade e na ruralidade do país, em nome de um sucesso escolar ilusório e sem capacidade para compreender que os abruptos desenraizamentos familiares aos 5/6 anos de idade serão pagos pelas gerações futuras em termos de saúde mental;
- a existência de anos sem oferta de formação contínua por parte dos Centros de Formação;
- a divisão da carreira absurda e injusta que não serviu para nada, excepto para revoltar e instabilizar as escolas durante três penosos anos;
- as maiores greves e as maiores manifestações de sempre, num levantamento esmagador de toda uma classe que se mobilizou a si própria, a partir das salas dos professores para as ruas, os blogues e a comunicação social, como nunca se tinha visto em três décadas de democracia.
O pouco à vontade com que Sócrates visita escolas/agrupamentos (normalmente, ao fim-de-semana e nos períodos de férias) é bem revelador da inadequação da "revolução" empreendida.
De uma forma geral, os grandes dinamizadores do ensino, que são incontornavelmente os professores, não suportam Sócrates.
Que raio de "revolução" é essa que muito provavelmente custou a renovação da maioria absoluta ao PS e que indignou muitos, não mobilizou ninguém, degradou a imagem pública da anterior equipa ministerial até ao descrédito total e "amansou" a
ferocidade política de Sócrates?

Reitor

Sem comentários:

Enviar um comentário