quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Obscurantismo Informativo, Paternalismo Estatal, Nomenklatura Informada e Ainda Retórica q.b.

Não tenho por hábito ler o Homem Cristo (o nome impõe tal respeito que...). Ao passar por este título sugestivo e ribombante do Paulo Guinote, fui ver a peça do Cristo no Expresso.
Estive quase a concordar com o Paulo, não fosse não ter vislumbrado um único facto revelador da cristã ignorância que aponta. Antes pelo contrário, o Homem acerta em todas, excepto na abertura.
Na verdade, não são as escolas que continuam imunes nem são os professores que se mantêm intocáveis com a falta de transparência do Estado.
O Estado retém a informação sobre as provas de aferição (só a nomenklatura restrita conhece todos os resultados) e não a divulga publicamente para não ser ELE próprio responsabilizado. O Homem Cristo apenas se esqueceu de que as escolas e os professores pertencem ao Estado. São da responsabilidade do Estado o número, dimensão e tipo de escolas; o número, formação, avaliação e qualidade dos professores.
Portanto, é um erro de palmatória pensar-se que o obscurantismo estatal, o condicionamento da informação e, no fundo, a ignorância do povo servem para proteger as escolas e/ou os professores. A informação estatal que circula é aquela que interessa à máquina do Estado e à nomenklatura política e não a que interessa aos cidadãos. O exemplo máximo daquilo que afirmo pode ser testemunhado pelo jornal PÚBLICO, cujo director, José Manuel Fernandes, litigou anos a fio na justiça para que o Governo cumprisse as leis do Estado (Administração aberta) e disponibilizasse os resultados dos exames nacionais.
Ora bem, se o Homem acertou em todas menos numa tu, meu caro General, numa defesa emocionada dos professores e das escolas, como é teu timbre, acabaste por dar todos os tiros ao lado. E ainda tiveste tempo de abrilhantar a prosa com doses de retórica a lembrar as velhas cassetes...
Vamos ver:
1 - Na verdade, nem os pais nem o comum cidadão têm acesso à informação sobre os resultados das Provas de Aferição. Nem os pais dos alunos que frequentam cada escola, nem os restantes pais que, tal como eu e tu, são cidadãos pagantes de impostos. Nem todos, mas enfim.
Dizeres que há escolas que disponibilizam os resultados nas suas homepages e nos placares e que os pais têm acesso aos dados via Conselho Geral, é demagogia em estado puro. Simplesmente porque; a) nem todas as escolas o fazem; b) os pais, na sua generalidade, não conhecem os membros do CG e c) mesmo que todas o fizessem e os pais participassem activamente nos órgãos das escolas, haveria sempre 99,9% dos pais dos alunos das outras escolas e dos futuros alunos que se manteriam na ignorância e nao saberiam onde procurar essa informação. E, mesmo que soubessem, nunca poderiam ter acesso à informação de todas as escolas, excepto se a elas se deslocassem e a solicitassem.
2 - Pensar que se defende os professores e as escolas à custa do rateio e da gestão de uma informação que deveria ser pública por natureza não lembraria o diabo. E muito me admira que tu, uma cabeça excelente, ainda dês para esse peditório.
Há comentadores e escrevedores que não percebem népia de educação e se limitam a fazer ataques aos professoes e às escolas, facil e impunemente. É verdade.
O Governo socratino tem feito tudo para desprestigiar e achincalhar uma classe de bons profissionais e merece o purgatório só por isso. É verdade.
Mas, também é verdade que não deveríamos pôr em causa, nem sequer ter dúvidas, de que num Estado de Direito Democrático:
- Os cidadãos tem direito à informação que não é classificada pelo Estado nem sigilosa do ponto de vista industrial.
- O cidadão só é livre se puder escolher e tomar as suas opções de vida, mesmo que, posteriormente, se arrependa.

Reitor

10 comentários:

  1. Eu não pertenço ao Estado, alugo umas horas da minha vida...

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  2. Ok, já percebi que vens com poucas munições. Vá lá, não queiras acertar sempre.
    Sou muito sensível ao condicionamento da informação, repudio um Estado que me tutele o juízo, as escolhas, as ideias e as opiniões.
    Fico logo com urticária quando vejo o Estado a decidir qual a informação a que devo ter acesso e a que me está vedada, quando vejo o Estado a decidir qual a melhor escola para educar os meus netos e qual o médico de família a que devo recorrer quando estou doente. Não é por nada, mas vem-me logo à cabeça que o Valter Lemos e o Teixeira dos Santos também são "Estado"...
    ;-)

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  3. Caro Reitor,


    Tem razão no que escreve. A minha crítica é, num primeiro momento, ao ME, como é possível notar no subtítulo do artigo do Expresso que originou este debate. Não tenho dúvidas que é o ME o principal favorecido pela ausência de transparência.

    Por outro lado, julgo que esta é uma situação que agrada aos professores e às escolas, na medida em que previne a possibilidade de terem de prestar contas. É algo que considero ser igualmente grave, e por isso insisti nesse ponto no artigo. Espero, claro, que esteja errado mas, infelizmente, as críticas do Paulo Guinote, o tom com que as faz e os aplausos que recebe nos comentários ao seu post parecem-me o reflexo dessa realidade.


    Um abraço,
    Alexandre Homem Cristo

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  4. Os meus parabéns por um post certeiro e que deixou a "oposição" completamente zonza como o atesta o primeiro comentário da caixa.

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  5. Os meus parabéns por um post certeiro e que deixou a "oposição" completamente zonza como o atesta o primeiro comentário da caixa.

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  6. Mas para isso era necessário os pais irem ao menos umas 3 vezes por ano à escola muitos vão uma vez...mais de um terço nunca lá vão...
    Vão fazer isso nas Universidades...olhem que o reitor talvez deixe...

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  7. Como professor tb. queria o acesso ao resultado das provas de aferição para melhor compreender as lacunas que os meus alunos apresentam, apesar de uns doces de criaturas.

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  8. Há anos que tento ter acesso às provas realizadas pelos meus alunos, uma vez que são reenviadas para as escolas depois de classificadas. Nunca consegui.Devem seguir direitinhas para o arquivo morto.

    Sei que as direções das escolas têm chave de acesso à classificação esmiuçada das provas dos seus alunos. Guardam em segredo.

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  9. Disse "há anos que tento" e isto quer dizer que faço requerimento escrito entregue formalmente na secretaria da escola.

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  10. Há quem estude os problemas das escolas em vez de se concentrarem em frente do ME,vejam:http://estrolabio.blogspot.com/2010/11/escolha-da-escola-descobertas-e.html

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