sábado, 17 de julho de 2021

Outro Que Viu a Luz. Agora!



Como pode haver quem proponha e defenda militantemente políticas educativas que vão traduzir-se no triunfo da ignorância dos jovens? Ao contrário do que podem afirmar os teóricos da conspiração, a razão não é uma vontade escondida de promover a ignorância da população para melhor a dominar.

Não, as razões são outras e muito simples. São essencialmente duas. Primeiro, a instalação do pós-modernismo há umas décadas fez nascer em alguns meios universitários ligados à educação e didáctica uma atitude de desvalorização do conhecimento (em todas as áreas), visto como parte das grandes narrativas passadas que se desmoronam.

A segunda razão tem que ver com o ambiente dominante nas escolas públicas portuguesas, um ambiente difícil, turbulento, com graves problemas de indisciplina. As escolas são institucionalmente fracas e não têm instrumentos que lhes permitam contrariar esse ambiente. Os professores ficam sozinhos perante as turmas, perante jovens desinteressados e agarrados aos telemóveis. Num tal contexto, que é tudo menos propício à concentração, ao estudo, à aprendizagem, são bem-vindas as doutrinas que racionalizem o falhanço, que desvalorizem o conhecimento, que aconselhem a "negociar" com os alunos o que eles querem aprender e como.

Sinal seguro da implantação dessas doutrinas são os slogans sobre "colocar o aluno no centro do processo de aprendizagem", ver os professores como "facilitadores das aprendizagens", "adaptar o ensino ao contexto e aos interesses do aluno" (como se, no coração da missão da escola, não estivesse, precisamente, levar o aluno a transcender o seu contexto). Um slogan novo diz que "A Matemática é um direito de todos". Face ao que agora se propõe, isto é o mesmo que dizer que "a habitação é um direito de todos" e depois promover a construção de tendas esburacadas no meio do deserto. Pode haver correcções e melhorias a fazer nos objectivos, nos programas e nas metodologias activas mas não as que se anunciam.


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