Luís Sottomaior Braga é o ilustre professor de Viana do Castelo que lançou uma petição pedindo a responsabilização dos pais pelo absentismo e indisciplina dos filhos menores. Uma petição a favor da liberdade e da responsabilidade que recolheu muitos subscritores e foi alvo de debate parlamentar.
Desta vez, dando espessura ao ditado popular "no melhor pano cai a nódoa", escreveu um manifesto contra a liberdade. Uma página negra das muitas que se escreveram já contra todos aqueles que, sem qualquer petição ou apoios, apenas querem ter a liberdade e a responsabilidade de escolher a melhor educação dos seus filhos.
Comecemos pelo princípio.
Ao contrário do que acontece hoje a muitas crianças e a muitas famílias, o Luís Braga frequentou a escola primária que a sua mãe escolheu (os meus sentidos pêsames pela sua perda, Luís). Ele próprio o diz:
"De certa maneira a minha mãe escolheu de acordo com o seu modelo de sociedade”.
Muitos portugueses, ainda hoje, não podem escolher a escola dos filhos. A mãe do Luís Braga teve possibilidade para escolher a escola do filho. Hoje, é o "filho Luís" que defende se negue aos pais dos outros a possibilidade de fazerem o que fez a sua mãe, há mais de 20 anos por certo!
Daqui não resulta que hoje há menos liberdade de escolha do que havia quando o Luís era criança. Não. Daqui resulta apenas que, há mais 20 anos atrás e tal como hoje, há portugueses que podem escolher a escola dos filhos e outros não. Significa que ainda hoje há portugueses de primeira e outros de segunda.
O Luís também dá conselhos aos “liberais da livre escolha de escola”.
O Luís também dá conselhos aos “liberais da livre escolha de escola”.
Não sei se os tomou para ele nem se os chegou a dar à sua mãe enquanto teve tempo para o fazer. Dá-os a nós.
- O primeiro conselho é o território: diz o Luís que há zonas (grandes cidades) onde há muito por onde escolher (escolas) e outras (interior) onde não há escolha possível. Pois, Luís... E depois?Também, há zonas do país com apenas um notário, uma conservatória e um café. Há zonas onde há vários e outras em que faltam. Mas, nem mesmo assim, as pessoas deixam de fazer as suas escolhas. A questão do território que o Luís levanta tem a ver, quando muito, com a concorrência e não com a liberdade.
- O segundo é a desigualdade de partida ou "determinismo social". No fundo, diz o Luís que as circunstâncias de nascimento marcam o destino de muitas crianças, retirando-lhes possibilidades de escolha. Determinando o seu futuro.
Este argumento foi completamente despedaçado no século XIX. Precisamente ao contrário, é a livre escolha que pode permitir a alguns destes desafortunados "furar" o destino e ascender socialmente. Só a liberdade permite que nos libertemos de um destino “injusto” e marcado desde o início. Bem, em bom rigor, não é apenas através da liberdade que podemos esbater as desigualdades de partida. Também o podemos fazer de forma imoral e ilícita: através da cunha, da falcatrua, do nepotismo, das falsas declarações, da intrujice, da mentira, etc...
No entanto, se seguirmos um rumo de licitude, será apenas a liberdade de escolha e nunca as escolhas que o Estado faz por nós, que nos permitirá contrariar o destino que nos estava traçado.
- O terceiro, os aspectos práticos - Como será se o dinheiro for dado às famílias para a escolha e se esquecerem de pagar a escola (no turbilhão do endividamento)? questiona o Luís?
Esta "pergunta" do Luís é demagógica e bastará este argumento para a transformar em pó: O Estado precisará de dar tanto dinheiro às famílias como dá aos funcionários públicos (a você também, Luís) para escolherem o serviço de saúde a que livremente recorrem. Ou seja, zero euros.
- O quarto, as regras de acesso - E aqueles que ficarem nas escolas que sobram depois de todos escolherem e esgotarem as vagas das “boas” escolas? Vão ficar pior.
Não Luís, não vão ficar pior. Aliás, o pior que lhes pode acontecer é ficarem na mesma e, entretanto, os que puderam escolher as boas escolas ficarão melhor.
No entanto, se seguirmos um rumo de licitude, será apenas a liberdade de escolha e nunca as escolhas que o Estado faz por nós, que nos permitirá contrariar o destino que nos estava traçado.
- O terceiro, os aspectos práticos - Como será se o dinheiro for dado às famílias para a escolha e se esquecerem de pagar a escola (no turbilhão do endividamento)? questiona o Luís?
Esta "pergunta" do Luís é demagógica e bastará este argumento para a transformar em pó: O Estado precisará de dar tanto dinheiro às famílias como dá aos funcionários públicos (a você também, Luís) para escolherem o serviço de saúde a que livremente recorrem. Ou seja, zero euros.
- O quarto, as regras de acesso - E aqueles que ficarem nas escolas que sobram depois de todos escolherem e esgotarem as vagas das “boas” escolas? Vão ficar pior.
Não Luís, não vão ficar pior. Aliás, o pior que lhes pode acontecer é ficarem na mesma e, entretanto, os que puderam escolher as boas escolas ficarão melhor.
Reitor
100% de acordo. Parabéns, Reitor!
ResponderEliminarReitor
ResponderEliminarIsto é obsessão ou convicção? Não há argumento que aceite e até parece a defesa de um programa social para VIPs.
Onde é que está a escolha dos pais em cujas aldeias foram encerradas escolas, por determinação da ME, com base no jogo do 21? Estamos a falar do nosso extracto social, ou estamos a falar de toda a população portuguesa?
Quem ouve alguns defensores da ideia (imposta na agenda), parece que estudaram onde lhes apeteceu (escolheram) fora da sua terra e dentro das existentes (quando as havia).
Isto nem é estar a favor, nem contra, é não querer entrar numa discussão (e tenho entrado) meio- surrealista e embaladora.
Acordemos para os problemas reais, ou melhor populares...
Reitor
ResponderEliminarEu serei um exemplo que pode corroborar muito do que o Luís defende, sobretudo há umas décadas atrás.
Considero, francamente, e peço desculpa se o incluo neste aspecto, que há muita gente que parece estar a milhas de algumas realidades.
Sem possibilidades físicas (transportes em conformidade) para me deslocar à cidade mais próxima, os meus pais ( mãe em casa e pai funcionário público a ganhar pouco)"tiveram" de me matricular num colégio privado que recolhia os alunos, embora eu levasse termo com comida para poupar, a mensalidade era superior ao ordenado do meu pai! Sabe como pagavam?! Umas vinhitas cujas uvas iam para uma cooperativa próxima. Uma ninharia mas era um balão de oxigénio no orçamento familiar.
E fala o colega em livre escolha? Nada contra essa liberdade, claro, mas há liberdades que se pagam e às famílias carenciadas de que lhes vale isso?
A não ser que tudo se torne gratuito e a partir daí, não fará sentido falarmos no público e no privado. Sobretudo porque é suposto o privado ter lucro.
A mãe do Luís optou pela escola´pública porque, pelo que percebi, era a mais próxima e ia ao encontro do modelo de escola que ela defendia e eu segui o trajecto oposto, só que no meu caso nem houve opção.
Cumprimentos.
Nina Santos
Reitor,
ResponderEliminarA cada um a sua obsessão, a sua fórmula secreta.
Não me digas que fizeste parte daqueles a quem foi foi perguntado como se poderia definir a saída para os problemas da nossa Educação numa fórmula simples e acessível.
Eu respondi que não havia fórmulas mágicas, porque a realidade é mais complexa do que slogans...
Penso que saibas do que falo...
Até porque se eu contar pelos dedos já se consegue uma tríade ministeriável...
(esta é mesmo a devolver uma alfinetadas...)
Miguel
ResponderEliminarA liberdade nunca é "total" nem nunca se alcança de uma só vez. Veja que só há 36 anos tivemos liberdade para votar e, ainda há menos, para nos divorciarmos...
Gosto de um bom debate, mas recuso e combato qualquer argumentação em favor da limitação da liberdade. São obsessões...
Não me preocupa - nesta discussão -o direito de escolha dos que aparentemente não têm escolha, dos pais nas aldeias onde foram encerradas escolas (eu também gostaria de escolher um homem sério para nos governar, mas, durante 4 anos...). Até porque essa é uma falsa questão. Em bom rigor, não é a inexistência de escola na aldeia que os impede de escolher a escola. Primeiro, porque poderiam escolher uma escola de entre as escolas das aldeias que ainda as têm (como eu poderia emigrar para um país à minha escolha e libertar-me do governo do defensor da escola pública que matriculou os filhos na escola alemã de Lisboa). Depois, porque o direito de escolha apenas tem sentido quando é possível a escolha e não quando ela não é possível (aposto que nem você consegue escolher o dia do pagamento ou quem gostaria de ver à frente da SONAE ...)
Estas coisas, Miguel, são gradativas e lentas na prática (na realidade). However, basta apenas que amanhã um português possa escolher a escola dos filhos e que o Estado assuma os custos dessa escolha na mesma medida em que assume os custos dos restantes alunos portugueses, para eu ficar satisfeito. E achar que somos mais livres. E que, sendo mais livres, somos mais senhores do nosso destino.
Viva a liberdade.
Nina
ResponderEliminarA mãe do Luís escolheu a escola que queria para o filho. Fez a sua opção.
Os seus pais também fizeram a sua opção: entre deslocações insuportáveis para uma escola pública e o preço da escola privada que a recolhia em casa, optaram pela escola privada.
Acontece, Nina, que se vivessemos num país em que se respeitasse a Constituição que diz que há liberdade de ensinar e aprender, o Estado - que você defende que continue a escolher as escolas por nós - deveria ter suportado os custos da sua educação no colégio privado na mesma medida que suportava a dos meninos que frequentavam a escola da cidade.
Resumindo, você defende hoje para os outros a injustiça e a desigualdade de que os seus paizinhos foram alvo.
Guinote
ResponderEliminarTu e as tuas metáforas...
Não, não. A mim ninguém pergunta nada. Tu é que és famoso.
Eu acho que deveríamos olhar para os problemas reais da mesma forma que o podador olha para as árvores. A liberdade ajuda sempre a resolver os problemas reais. E a podar bem as árvores.
Vamos ver: tu ficavas com a Pasta da Educação (era bem entregue, mais não fosse pelo serviço público que tens prestado); O Ramiro ficava com a pasta dos do superior e como Primeiro, não sei no que estás a pensar, mas que dizes ao Santana Castilho, hem?
Acertei?
;-)
Isso seria um pesadelo.
ResponderEliminarMas uma impossibilidade objectiva de um dos visados.
Já disse tantas vezes, que me sinto riscado: não quero descer mais em termos de carreira.
E como saberás - espero que sim - a pasta da Educação estará entregue e bem entregue, mesmo se discordo de alguns aspectos da visão em causa.
Acho que a tua prospectiva está muito blogocêntrica. E encavalitada...
;-)