quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Sugestões para a construção de uma proposta de avaliação de desempenho justa e equilibrada

Fisgas de Ermelo - Mondim de Basto

O professor Ramiro Marques deixou um interessante desafio aqui, ao qual roubo o título. Também já tinha aflorado este assunto aqui.
Pergunta Ramiro Marques:

A avaliação dos professores. Quem a deve fazer? Quando? Como?
Não tenho dúvidas nenhumas que os professores, cada professor, só podem ser avaliados pelos responsáveis pelas escolas onde trabalham: pelos Directores. Pode haver outros intervenientes na avaliação do desempenho dos professores - deve haver - mas será sempre em última instância o Director que deve avaliar os professores.

Ao contrário do Ramiro, penso que o Director não será um “avaliador externo”. Pelo contrário, será o avaliador interno com mais legitimidade e autoridade para avaliar os professores da escola.

A primeira nota é esta: o Director será um Avaliador Interno, mas NÃO é PAR.
Não há dúvida que sendo o coordenador de departamento um professor titular com responsabilidades organizacionais superiores à dos professores do respectivo departamento, também ele há-se interferir de alguma forma na avaliação dos professores.

Dito de forma resumida: também me parece óbvio que coordenador que não avalia não coordena.
A questão que deve ser colocada é a seguinte: Em que medida e de que forma é que o coordenador avalia os professores que coordena?
MEDIDA: Na avaliação de cada docente, o peso da avaliação efectuada pelo coordenador deveria ser, obrigatoriamente, inferior ao peso da avaliação efectuada pelo Director. Na minha opinião, não menos que 30% e não mais que 40% do peso da avaliação deste último.
FORMA: O coordenador avalia o professor na parte que lhe compete coordenar e para a qual detém experiência e/ou qualificações superiores. Note-se que a “articulação e gestão” curriculares – funções dos departamentos – ocorrem, sobretudo, antes das aulas e não durante as aulas. Durante as aulas executa-se o currículo de acordo com uma planificação previamente estabelecida.
Daqui resulta que a assistência às aulas não carece de ser feita pelo coordenador, nem revelará se o currículo está a ser devidamente articulado ou gerido por cada docente – tarefas que incumbem ao departamento e não a cada professor.
Resulta também daqui que uma aula, seja ela qual for, pode ser assistida e avaliada pelo coordenador, pelo inspector, pelo director e, pasme-se, até pelos alunos…
Se não quisermos desviar a atenção daquilo que verdadeiramente importa, teremos de admitir que a assistência às aulas só interessa por duas razões: para se saber se o docente cumpre a planificação e para se saber se o docente sabe ensinar ou não. Esta última é a questão que, por assim dizer, incomoda os professores. Pode haver alguns (poucos certamente) que tenham má nota neste segundo quesito.
Calma. Calma. Não disparem já.
Vamos ver.
1 – A assistência às aulas só tem sentido em duas situações raras: a) para se avaliar se um professor excede a mediania. Ou seja, para sustentar classificações superiores a Bom e: b) para fundamentar classificações inferiores a Bom.
2 – Daqui resulta que a assistência a aulas não deveria ser um item ordinário de avaliação, mas sim pontual e extraordinário, requerida pelo docente que pretende obter classificação superior a Bom ou ordenada pelo Director, no caso de se antecipar classificação inferior ou superior a BOM.
3 – Por conseguinte e do meu ponto de vista, a assistência às aulas, quando necessária, deveria ser da responsabilidade conjunta do Director, do Coordenador e de um outro especialista na área do docente.
Reitor

Reitor

10 comentários:

  1. Concordo quase na totalidade com a proposta. Aliás, de entre as várias que vão surgindo, esta é a que me parece mais justa e atá mais idêntica à que pratica em vários países. A maior respnsabilidade da avaliação deve recair no director - ele conhece o serviço que distribuiu a cada professor, o tipo de alunos, turmas, horários, cargos etc. No entanto, parece-me que para a exercer com eficácia, deveria "circular" com alguma frequência pela escola, e mesmo pelas salas de aula, ainda que possa fazer observações "pouco formais" de aulas que podem nem ser completas. Claro que, a ser assim, deveria poder libertar-se de grnade parte das tarefas burocráticas que consomem o tempo aos CE.

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  2. Obrigado ap. Também defendo que o Director (e os actuais PCEs) têm o direito e o dever de assitirem a qualquer aula sem sequer avisar os respectivos professores. Ou seja, ao contrário do que diz o "senso pedagógico", gostaria de ver mais vezes os PCEs/Directores assistirem às aulas dos professores.
    Tenho como certo que a qualidade do ensino, inclusivamente a disciplina, melhoraria substancialmente

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  3. EXcelente post, Reitor, embora não concorde com tudo.

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  4. Essa coisa de o director ser dado como fiscal, pronto a aparecer de surpresa em qualquer cenário, não sugere que se pretende apanhar alguém de calças na mão?
    Isso era muito comum nos internatos do antigo regime.
    Valha-me Deus!

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  5. Pelo menos dois aspectos com os quais não concordo:

    1 - o Director a valiar pedagogicamente os professores. Certamente conhece directores que são óptimos na didáctica. Pois eu não. Os directores não dão uma aula sabe-se lá há que tempos. A maior parte deles foi para os executivos porque não gostava de dar aulas ou tinha jeito nenhum.
    Na minha opinião, o Director só pode avaliar o professor nas competências em que agora o avalia. E é tudo. A avaliação administrativa.

    O problema coloca-se na avaliação pedagógica. A questão de ser par ou não não é relevante. O problema que se coloca é ser uma pessoa que tenha competência, formação académica e autoridade para o fazer. E a avalição de trabalhores especializados só funciona se estes reconhecerem competência ao avaliador.

    2- No seguimento do que já foi exposto, a ideia de que o director pode assistir a uma aula sem aviso prévio. Parece-me um bocadinho ditatorial e fora do objectivo da avaliação. Dá ideia que esta se faz para apanhar o infelz a prevaricar.
    Esse é o espírito da avaliação imposta pelo ME e do qual eu discordo profundamente.

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  6. moafaserisota(oiginal nick)
    Nas actuais escolas básicas e secundárias, qualquer funcionário auxiliar, administrativo e técnico pode ser observado a trabalhar, em qualquer momento, sem prévio aviso e, veja lá, ser avaliado, corrigido e classificado pelo Presidente do CE ou pelo vice que aquele designou como avaliador.
    A menos que defenda que o trabalho do professor é secreto/sigiloso, não vejo como impedir o futuro director de assistir às aulas que entender e quando bem entender.

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  7. Cara Maria
    O director de uma escola não precisa de ser forte na didáctica nem na pedagogia. Não é para isso que lhe pagam nem é isso que lhe pedem quando o contratam.

    O director é escolhido por aqueles que têm legítimos interesses na educação dos jovens, precisamente, pela sua competência, formação académica e autoridade.

    Todos os trabalhos numa escola são "especializados" e executados por quem sabe. O director avaliará todos os que trabalham na escola sejam quais forem as suas funções, a menos que os professores sejam trabalhadores acima e à margem dos restantes trabalhadores da escola.

    Não há exemplo no mundo de o responsável por uma oganização não ser tb. o responsável pela avaliação dos funcionários da mesma, pois não?

    Assitir a uma aula não é um acto ditatorial.

    Obrigado por todos os comentários

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  8. Reitor:

    "O director de uma escola não precisa de ser forte na didáctica nem na pedagogia. "

    Tem toda a razão. Provalvelmente é por isso que nos últimos anos foi presidente do executivo e nos próximos será director.

    "O director é escolhido por aqueles que têm legítimos interesses na educação dos jovens, precisamente, pela sua competência, formação académica e autoridade."

    Em 90% das escolas, o director vai ser o actual presidente do executivo que ganhou as anteriores eleições, dirá você, e até eleito pelos pares, acrescento eu. Pena é que na maioria das escola só houvesse uma lista e as pessoas se perpetuassem no cargo.

    Quanto à "competência, formação académica e autoridade", abstenho-me de comentários, porque só posso falar do que conheço e disso já falei no comentário anterior.

    "O director avaliará todos os que trabalham na escola sejam quais forem as suas funções" Também concordo consigo, mas para tal têm de ter competência, formação académica e autoridade. Até lá...

    "a menos que os professores sejam trabalhadores acima e à margem dos restantes trabalhadores da escola."

    Mais uma vez, concordo consigo. Os professores não estão acima nem à margem dos outros trabalhores da escola. A única diferença é que constituem um grupo especializado que exerce as suas funções em estabelecimentos de ensino. Todos os outros trabalhadores da escola podem desempenhar as suas funções numa escola, numa empresa, numa câmara minicipal, etc.

    "Não há exemplo no mundo de o responsável por uma oganização não ser tb. o responsável pela avaliação dos funcionários da mesma, pois não?"

    Está a ver o Belmiro de Azevedo a avaliar as funcionárias das caixas do Modelo?

    "Assitir a uma aula não é um acto ditatorial." Para não destoar, termino a concordar consigo.
    Assistir a uma aula não é um acto ditatorial, nem foi isso que eu quis dizer.
    Há muito anos qua as portas das minhas salas de aula estão abertas para quem quiser entrar e às vezes entram e sentam e ficam a ver. E gostam.
    E eu fico muito contente por isso.

    É por isso que estou desejando de ser avaliada. A sério.

    Obrigada pela atenção.

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  9. Maria
    O seu último comentário é sugestivo e vejo que está de acordo comigo em algumas teses.
    Duas ou três impressões devo partilhar consigo:
    1 - Ou muito me engano (e, se assim for, não me leve a mal) ou V. tem a maturidade e a ambição suficientes para dirigir uma escola. Avance. Não receie.
    2 - Tem sorte com o seu PCE. Permite-lhe dar as aulas de porta aberta e que entrem pessoas na sala que não os alunos. Espero que o fututo director (ou directora, acho que nos estamos a esquecer que há muitas senhoras no ensino) também permita a assitência às suas aulas por pessoas, aparentemente, não autorizadas. O seu exemplo é, aliás, paradigmático: há professores que vêem a assistência às aulas como algo perturbador. Você até gosta. Enfim.

    Quanto à casca de banana que deixou na chão - "Tem toda a razão. Provalvelmente é por isso que nos últimos anos foi presidente do executivo e nos próximos será director" - não a piso...
    :)

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  10. Reitor:

    Em primeiro lugar, quero agradecer-lhe o elogio, mas o cargo de director não me entusiasma. O que eu gosto mesmo é de dar aulas.
    E tem razão, tenho muita sorte com a presidente do CE.

    Só lhe posso fazer um reparo: no número 2, quem entra nas minhas aulas são alunos da escola.
    Era muito mau se precisassem de autorização para estar sentados numa sala de aula da sua própria escola.

    Desejo-lhe boas férias.
    Maria

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