"Num dia é anunciada a contratação de mais trabalhadores para a função pública e logo aquelas pessoas que têm o cargo vitalício de falar pelos trabalhadores se congratulam, embora, dizem, seja necessário “aprofundar” a luta. Nem uma palavra, nem uma pergunta, nem uma dúvida sobre o perfil desses novos contratados por uma máquina estatal que não só pesa para lá do possível na despesa como distorce o mercado de trabalho ao pagar acima da média aos trabalhadores menos qualificados. (Para saber mais sobre este assunto recomendo a leitura de O Trabalho, Uma Visão de Mercado de Mário Centeno. Sim, exactamente o mesmo que agora é ministro das Finanças e que numa encarnação anterior foi técnico reputado). Noutro dia é o ministério da Educação que anuncia que vai contratar mais professores (sabem que a população escolar está a diminuir?) e reinventa os rankings de modo a que num ápice bolivariano as escolas que estão em 300º lugar passam para o topo das melhores. Do aumento da violência nas escolas e das consequências da dita “flexibilização curricular” nem uma palavra. Mário Nogueira controla não só o que se faz na 5 de Outubro mas também o que se diz sobre o que lá se faz. Oficialmente ”avança-se”. Nas empresas públicas e no SNS os orçamentos esgotaram-se a repor direitos e privilégios, os serviços aos utentes são cortados mas, dizem-nos, está a “defender-se o serviço público”. Aprofundar, avançar e defender são alguns dos verbos por que ficamos a saber que aconteceu mais uma venda de normalidade, essa start up dos radicais: eles geram um produto – o desgaste constante das instituições – mas se lhes derem poder eles institucionalizam-se e garantem a paz, vulgo normalidade. Por outras palavras fabricam o veneno e o antídoto. Se não se compra o segundo eles espalham o primeiro". Helena Matos
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