Ricardo Salgado foi ao Parlamento depor no âmbito do inquérito ao BES. Foi recebido como um rei, discursou com sobranceria, desprezou os deputados e nada esclareceu. Que trunfos tem Salgado para poder agir com tanta arrogância?
Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Salgado só falou do que quis. Até porque ninguém lhe colocou questões verdadeiramente incómodas. Ficaram por fazer as perguntas que permitiriam clarificar como foi possível desaparecer tanto dinheiro do BES e quem foram os atores na política e na Administração cúmplices no processo. Ficamos sem saber como foi possível o BES transferir para Angola três mil milhões, na maior operação de fuga de capitais, mesmo debaixo do nariz do Banco de Portugal; quem no governo autorizou o abate ilegal de sobreiros que viabilizou o negócio imobiliário da ‘Vargem Fresca’; quem foram os portugueses subornados na compra de submarinos intermediada pela ESCOM. Tão-pouco se esclareceu qual a intervenção do ex-ministro Miguel Relvas na privatização da EDP e qual a sua ligação ao BES; que papel teve o BES nas parcerias público-privadas, tão ruinosas para o Estado. Ou, até, a troco de quê o BES financiou os estudos de Durão Barroso em Georgetown. E, finalmente, nem uma pista sobre onde está o dinheiro proveniente de tanto negócio obscuro. Ao fim de horas de inquirição, nenhuma destas questões foi esclarecida. As perguntas pareciam escolhidas pelo inquirido. Perante uma CPI submissa, Salgado fez o seu espetáculo. Sentado no topo da mesa, em vez de confrontado, de frente para os inquiridores, como se faz em qualquer parlamento decente do mundo. Assumiu ar professoral e usou os deputados como figurantes das suas manobras para influenciar a opinião pública.
Só poderia haver uma razão para Salgado agir com esta arrogância: ter muitos políticos portugueses na mão; ou melhor, no bolso, no bolso onde guardará a sua lista de pagamentos – em avenças, favores, prebendas, empréstimos sem garantias e outros privilégios –, cujos beneficiários serão políticos e seus familiares.
Ricardo Salgado, apesar de ser considerado internacionalmente o pior gestor do mundo, em Portugal continua a ser rei, no meio da podre política nacional.
sábado, 20 de dezembro de 2014
Rei Ricardo
A ler, de Paulo Morais
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Democratas de abril
ResponderEliminarOs poderosos nunca deixaram de estar no poder, mesmo depois de abril. Os negócios são os mesmos, o guarda chuva estatal é o mesmo, nada mudou.
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