sábado, 23 de setembro de 2006

Zangada … também com os professores

Continuo zangada. Zangada com os professores. Sim esses que a Sra. Ministra resolveu fustigar, perseguir, acossar, responsabilizando-os por toda a desgraça.
Ora quanto a mim, se não são os mafarricos que se pintam, também não são uns coitadinhos!
Os professores não se podem demitir das suas responsabilidades em todo este decurso clamoroso, esconder a cabeça na areia como a avestruz e vestir a capa da vítima à espera da compaixão da opinião pública.
A classe docente pecou, e tem hoje, e antes que seja tarde, de fazer o seu mea culpa.
Pecou por ter pactuado ao longo destes anos com políticas educativas erradas. Pecou por ter cedido aos modernismos do pedagogês, em detrimento do que é verdadeiramente importante e papel da escola: ensinar bem, formar cidadãos activos e disciplinados, avaliar com justiça e equidade, fomentar os valores do trabalho e do mérito, premiar o esforço e o empenho.
Pecou por não ter sido capaz de resistir aos sucessivos “atentados” que foram cometidos nos programas, no sistema de avaliação dos alunos, nas reformas curriculares.
Porque era a eles a quem competia fazê-lo! Eles que são os especialistas em educação, com formação adequada, eles que trabalham no terreno, que têm de executar as reformas de pacotilha, de cumprir os programas, de trabalhar com os alunos e com as famílias …
E, pasme-se, nada fizeram!
Falar dos assuntos até falaram, maldizer da sua vida até maldisseram e quanto! Mas foi sempre intra muros, numa sala de professores qualquer, entre a bica bebida à pressa e o relatório da aula de apoio que é preciso colocar no dossier do DT. Carpiram em conjunto as suas mágoas, desabafaram, criticaram as reformas mas de forma tímida, quase encoberta, cheios de boa vontade para ver onde é que isto ia parar, quando cedo perceberam que o rumo a seguir não podia ser aquele …
Mas nada fizeram!
Por isso estou zangada com os professores. Estou zangada comigo!!
Quando ouço a Sra. Ministra “gabar” os professores, a sua “excelência” e “dedicação”, a sua carolice, o seu empenho … fico zangada!
Fico zangada porque se os professores, em tempos idos ou no passado mais recente, fossem menos “obedientes”, menos “dedicados”, menos “excelentes” e menos preocupados com os seus alunos ou com a imagem que sobre eles tem a opinião mediatizada, então talvez já se estivesse a trabalhar nas reformas que se impõem e de que o país precisa com a maior urgência!
Porque afinal, e desculpem-me o popular adágio, quem percebe da poda é que deve vindimar!

Inspectora Geral

2 comentários:

  1. Cara amiga Inspectora-Geral. Não há nenhuma "classe docente" em Portugal, pela simples razão que, até 2004, qualquer licenciado ou bacharel ou ainda menos, poderia ser professor.
    Classe de quê? Dos que são professores antes e depois de serem advogados, ou engenheiros, ou arquitectos ou economistas...
    É caso para dizer, como na política, todos somos professores. Portanto já vês: seriam cerca de 10 milhões a fazer parte da "classe".

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  2. Sr.ª Inspectora Geral

    O problema da "classe docente" portuguesa continua a ser a de um certo snobismo pelintra que a faz julgar-se uma classe à parte e, apesar de tudo, nobilitada socialmente pelas funções que exerce. Mas, a verdade, é que a maioria não consegue, não vislumbra sequer a importância social que tem a educação num país e não vai além das meras reinvindicações salariais de conjuntura, importantes sem dúvida, mas não únicas. Reformas importantes são as do fim de carreira. As outras? Quem quiser que se preocupe.

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