PORTUGAL
Ontem, tivemos mais um dia normal na política portuguesa. De manhã, a imprensa anunciou que a nova secretária de Estado da Agricultura estaria envolvida, através do marido, em complicações judiciais. Depois do almoço, na Assembleia da República, o Primeiro-Ministro explicou que não tinha importância. Ao fim da tarde, o Presidente da República, num dos seus comentários da actualidade, insinuou que tinha alguma importância. Ao princípio da noite, a secretária de Estado demitia-se. Já não parece poder haver uma semana sem a demissão de um membro do governo. A isto chama-se, curiosamente, “estabilidade política”. A sociedade portuguesa entrou há vinte e tal anos numa trajectória de retracção demográfica e divergência económica. Não por causa de conjunturas más, mas porque o estatismo socialista impediu o país – com acesso a um grande mercado internacional, crédito barato e subsídios externos, e com uma população cada vez mais qualificada — de aproveitar a mais favorável época da sua história para fazer a economia crescer e a sociedade prosperar. O Partido Socialista, porém, pareceu até agora invulnerável a esta degradação. O ano passado, teve mesmo o prémio de uma maioria absoluta. A explicação não parecia difícil. O PS capturou o Estado, a partir do qual controla instituições, comunicação social e grandes empresas. Parecia, por isso, destinado a tornar-se cada vez mais forte, perante uma sociedade cada vez mais fraca, e portanto cada vez menos capaz de resistir e de gerar alternativas.
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